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MÉTODOS EPIDEMIOLÓGICOS

Carlos Alberto Treff Junior

Fonte: Shutterstock.

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Praticar para aprender

Olá, aluno! Nesta seção, estudaremos os conceitos da epidemiologia de maneira didática, para que você consiga compreender os tipos de estudos epidemiológicos, os principais delineamentos para que possa aplicá-los na identificação dos resultados das aulas, bem como no entendimento dos artigos relacionados a essa temática, a fim de que se mantenha atualizado.

Desta forma, iniciaremos entendendo o contexto em que a epidemiologia está inserida no campo da educação física, tema que estudamos na seção anterior, já que, atualmente, a (in)atividade física tem influência em diversas doenças. Nesse sentido, entender como a atividade pode impactar nas enfermidades pode direcionar sobre quais modalidades devem ser ministradas para determinados grupos específicos de alunos. Sabidamente, a falta de atividade física implica o agravamento dessas doenças, da mesma forma que a realização da prática regular pode ser, em muitos casos, a melhor forma de terapia.

Ao compreender os delineamentos dos estudos epidemiológicos, conseguiremos distinguir os estudos experimentais dos estudos observacionais e, da mesma forma, identificaremos os estudos longitudinais de coorte, para que consigamos minimamente realizar a interpretação dos artigos científicos, de forma que você reflita sobre a sua futura atuação profissional.

Durante toda esta seção, falaremos sobre como os conceitos teóricos da epidemiologia são efetivamente colocados em prática e estudaremos os principais delineamentos, tipos de estudos e como inferir os resultados em alguns casos nos possibilita a generalização.

Assim, esta situação-problema consistirá na construção de uma análise com dados de atividade física com base de dados abertos, como IBGE e Vigitel. A partir disso, utilize um gerenciador de planilhas para que consiga organizar os dados.

Inicialmente, crie uma hipótese relacionando a atividade física e como ela pode proteger o indivíduo de doenças cardiovasculares. A partir disso, com dados organizados, faça uma tabela 2x2, como mostrado a seguir:

Lorem ipsum Lorem ipsum Column 3 Column 4
Doença Presente Doença Ausente Total
Exposição Presente a b a+b
Exposição Ausente c d c+d
Total a+c b+d n

Construa, para todas as variáveis analisadas, como a atividade física pode ser utilizada como um fator protetor para a saúde, de acordo com banco de dados utilizado.

Bons estudos!

conceito-chave

A epidemiologia consiste no estudo da distribuição dos determinantes da prevalência da doença em uma população. Com a aplicação das técnicas aprendidas na seção anterior, podemos traçar estratégias para controlar problemas de saúde. Essa forma didática de apresentar a epidemiologia possui duas partes diferentes: os estudos descritos e os estudos analíticos, os quais fazem parte de um tipo de estudo epidemiológico, que é o observacional.

Quando falamos nos estudos descritivos, nos referimos ao estudo da distribuição de um evento em uma população, ou seja, determinar a distribuição das doenças e das possíveis condições de saúde, de acordo com tempo, local do evento ou características da população estudada.

Os estudos descritivos observam a incidência ou prevalência de doenças ou condições relacionadas à saúde e quais mudanças podem ser observadas de acordo com certas características (sexo, idade, educação, renda, etc.), sendo que a partir dessa condição é possível identificar os grupos de alto risco e traçar a melhor estratégia de prevenção dessa doença, além de levantar novos questionamentos, ou seja, elaborar novas hipóteses para novas pesquisas.

Os estudos analíticos como parte do método epidemiológico têm como principal função testar hipóteses de associação entre possíveis causas e efeito. Na medicina, na maioria das vezes, esses estudos estão relacionados com a tentativa de estabelecer a relação entre a exposição e um possível fator causal de uma doença. 

A partir dos estudos descritivos é possível formular uma hipótese, realizar os estudos analíticos e testar, por meio de técnicas, a hipótese de associação entre a possível causa e o efeito. Baseado nos estudos analíticos e nos testes de hipóteses é possível concluir sobre a relação causal e, em algumas vezes, perceber a necessidade de novos estudos descritivos e novas hipóteses a serem formuladas.

Exemplificando

Quando estudamos a epidemiologia, precisamos definir um delineamento do estudo. Seja qual for esse desenho, é preciso que já esteja definida a hipótese do estudo, que consiste na resposta provisória do estudo, pois, após as análises, essa hipótese inicial pode ser confirmada ou rejeitada.

Para se confirmar ou rejeitar a hipótese, é necessário utilizar o teste de hipóteses (abordaremos na próxima unidade). Adota-se o termo hipótese nula para designar a hipótese inicial do estudo. Por exemplo, se um estudo tem como objetivo verificar a associação entre a inatividade física (fator de exposição) e a incidência da hipertensão, então a hipótese nula é: a incidência de hipertensão independe da presença da inatividade física. Se houver rejeição da hipótese nula, a hipótese alternativa deve ser adotada, o que consiste na hipótese considerada verdadeira.

Para que as hipóteses se confirmem, é necessário que o desenho do estudo possibilite a observação sistemática dos fenômenos de interesse, além de utilizar métodos estatísticos, a fim de analisar e interpretar os dados. Os delineamentos podem ser divididos em experimentais, que possuem como principal característica o controle da exposição ao fator de interesse, por exemplo, avaliar o quão efetiva e segura é uma intervenção terapêutica (utilização de drogas combinadas) sobre o paciente. No delineamento quasi-experimentais, o controle por parte do investigador está no fator de risco, contudo a distribuição dos grupos de participantes não é aleatória. Um bom exemplo desse delineamento é a comparação de ocorrência de cárie dentária entre duas populações, sendo que em uma a água consumida com a utilização de flúor, e a outra, não. Já em desenhos observacionais, o investigador não controla a exposição e a divisão dos grupos de participantes, observando os resultados.

Podemos classificar as investigações epidemiológicas analíticas da seguinte maneira:

  1. Experimentais
  2. Observacionais
    • 2.1 Transversais
    • 2.2 Longitudinais
      •        2.1 Coorte

Estudos experimentais

Os estudos experimentais são também conhecidos como estudos de intervenção e se caracterizam em razão de o investigador determinar um grupo de expostos (a+b) e não expostos (c+d) a um certo fator. A partir disso, o ponto inicial é a variável independente e a distribuição dos participantes nos grupos de expostos e não expostos. Tal fato pode ser representado na tabela a seguir.

Tabela 3.1 | Esquema de estudos experimentais
Lorem ipsum Lorem ipsum Column 3 Column 4
Doença Presente Doença Ausente Total
Exposição Presente a b a+b
Exposição Ausente c d c+d
Total a+c b+d n
Fonte: elaborada pelo autor.

Quando se realiza a separação em dois grupos, o objetivo é que se possa realizar o experimento, a fim de compará-los para um determinado possível resultado, podendo ser representado no esquema a seguir.

Figura 3.1 | Representação de dois grupos
Fonte: elaborada pelo autor.

A separação em dois grupos nesse exemplo é para uma melhor visualização, pois pode haver mais grupos a serem avaliados. No esquema apresentado, podemos analisar a eficácia de uma nova droga contra uma doença específica, por exemplo. É possível avaliar esse novo produto, que seria ministrado para o grupo de estudo, contra um tratamento padrão, ministrado ao grupo de controle, e comparar os resultados de cada um deles. Há também a possibilidade de o grupo de controle receber placebo.

Assimile

A epidemiologia possibilita estudar como se desenvolve uma doença ou um fator de risco em uma determinada população. Para isso, são utilizados diversos métodos para que o estudo seja o mais próximo da realidade. Nesse sentido, falaremos sobre placebo. Esse recurso é utilizado em muitos casos em pesquisas experimentais, e nada mais é do que uma substância inerte, sem eficácia terapêutica, administrada com o objetivo de avaliar o possível efeito na redução de alguma doença, causado apenas pela ingestão de uma substância que acredita ser o medicamento, gerando “cura” psicológica.

Estudos transversais

Os estudos transversais são as estratégias de estudos epidemiológicos que se caracterizam pela observação direta de uma determinada quantidade planejada de indivíduos em uma única oportunidade. Outra característica dos estudos transversais é a utilização de amostras de uma determinada população e, posteriormente, a generalização dos resultados para a população de referência. Isso ocorre porque, quando se realiza a observação da população de análise e ela é muito numerosa, o estudo torna-se relativamente caro. Nesse caso, opta-se por realizar uma seleção dos participantes, e assim é construída uma amostra. Ao realizar a observação dos participantes no momento do estudo, os resultados devem estar sempre relacionados ao local e à época demarcados.

Basicamente, os estudos transversais estão ligados à necessidade de conhecer como uma ou mais características (individuais ou coletivas) estão distribuídas na população. É um excelente método para descrever as características de uma população em um determinado período.

Os estudos transversais não conseguem testar hipóteses sobre causa e efeito, mas ainda é possível testar a associação entre dois eventos, como doença e exposição. Caso utilize uma quantidade de amostra adequada (adquirida pelo cálculo amostral), esse modelo pode se mostrar como uma fotografia de uma população. Deste modo, não é possível estabelecer com exatidão se a exposição ocorre antes da doença ou se é resultado dela.

Um exemplo dessa situação é a relação entre o indivíduo ser fisicamente inativo e a obesidade. O achado de maior número de pessoas obesas entre os fisicamente inativos pode ser interpretado como uma relação causal, em que o segundo seria o fator determinante do primeiro.

Estudo longitudinal

Entre os estudos longitudinais, destacam-se os estudos de coorte e caso controle, que possuem a característica de monitorar os participantes ao longo de um determinado tempo.

Os estudos de coorte são considerados observacionais. Neles, a situação dos participantes em relação à exposição ao fator de interesse a ser estudado determina o convite para o estudo, sendo esses indivíduos monitorados ao longo do tempo, a fim de verificar a incidência de alguma doença ou desfecho de interesse.

A principal característica desse tipo de estudo é que a seleção da população estudada deve ser realizada partindo da variável independente, aproveitando que os diferentes grupos de pessoas se expõem ou não à ação de um fator de risco qualquer naturalmente.

Podemos exemplificar com a hipótese de que o tabagismo aumenta o risco de câncer de pulmão. No estudo de coorte, os participantes seriam divididos em dois grupos, sendo um de fumantes (a+b) e um de não fumantes (c+d). Com o acompanhamento padronizado e sistematizado dos dois grupos, eles seriam avaliados e comparados conforme a incidência de câncer de pulmão entre os expostos e não expostos.

Os estudos de coorte também podem ser classificados em prospectivos e retrospectivos, sendo o modelo prospectivo caracterizado quando as pessoas expostas e não expostas são selecionadas no momento zero do estudo e acompanhadas ao longo do tempo, verificando-se a incidência de doenças em ambos os grupos. Já no modelo retrospectivo é possível selecionar os indivíduos do estudo com base em uma exposição que já ocorreu, estudando no momento presente as doenças que possivelmente tenham sido ocorridas pela exposição.

A hipótese de que a exposição à radiação causada por uma explosão nuclear está associada ao aparecimento de uma determinada alteração cromossômica e através do estudo de coorte retrospectivo, pois bastaria, no momento atual, selecionar o grupo de indivíduos que foram submetidos a essa exposição e verificar a alteração cromossômica.

Quanto ao estudo prospectivo, um exemplo são os estudos de coortes que acompanham o indivíduo durante algum tempo, a fim de analisar possíveis doenças que ele possa adquirir durante o período de acompanhamento. Em coorte de indivíduos saudáveis que estão acompanhados até o momento que o tiver interesse em participar, e ao longo do tempo o participante desenvolve um câncer de pulmão em virtude do tabagismo durante a vida.

Reflita

Inegavelmente, as pesquisas científicas utilizando seres humanos nos estudos experimentais são muito ricas e trazem benefícios para a sociedade, contudo sempre há o conflito de a pessoa ser submetida a um estudo experimental. Deste modo, reflita sobre a diferença ética em modelo experimental versus estudos observacionais em humanos.

Assim encerramos esta seção. É importante que você compreenda como os desenhos dos estudos em epidemiologia podem ser utilizados para a Educação Física e como conseguimos identificar os principais pontos para a construção de um estudo.

Faça a valer a pena

Questão 1

Os estudos descritivos observam a __________ ou _________ de doenças ou condições relacionadas à saúde e como isso muda de acordo com certas características (sexo, idade, educação, renda, etc.). A partir dessa condição é possível identificar os grupos de ______ risco, para que seja realizada a __________, além de levantar novos questionamentos, ou seja, elaborar novas hipóteses para novas pesquisas.

Assinale a alternativa que preenche as lacunas corretamente:

Correto!

Os estudos descritivos observam a incidência ou prevalência de doenças ou condições relacionadas à saúde e como isso muda de acordo com certas características (sexo, idade, educação, renda, etc.). A partir dessa condição é possível identificar os grupos de alto risco, para que seja realizada a prevenção, além de levantar novos questionamentos, ou seja, elaborar novas hipóteses para novas pesquisas.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

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Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Questão 2

Os estudos descritivos referem-se ao estudo da distribuição de um evento em uma população, ou seja, determinar a distribuição das doenças e das possíveis condições de saúde de acordo com tempo, local do evento ou características da população estudada.

  1. Os estudos analíticos como parte do método epidemiológico têm como principal função testar hipóteses de associação entre possíveis causas e efeitos. Na medicina, na maioria das vezes, estão relacionados à tentativa de estabelecer a relação entre a exposição e um possível fator causal de uma doença. 

PORQUE

  1. Os estudos analíticos como parte do método epidemiológico têm como principal função testar hipóteses de associação entre possíveis causas e efeitos. Na medicina, na maioria das vezes, estão relacionados à tentativa de estabelecer a relação entre a exposição e um possível fator causal de uma doença. 

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Asserção correta: I. Os estudos analíticos como parte do método epidemiológico têm como principal função testar hipóteses de associação entre possíveis causas e efeitos. Na medicina, na maioria das vezes, estão relacionados à tentativa de estabelecer a relação entre a exposição e um possível fator causal de uma doença. 

Asserção correta, mas não justifica a primeira: II. A partir dos estudos descritivos é possível formular uma hipótese, realizar os estudos analíticos e testar por meio de técnicas a hipótese de associação entre a possível causa e o efeito. Baseado nos estudos analíticos e nos testes de hipóteses é possível concluir sobre a relação causal e, algumas vezes, perceber a necessidade de novos estudos descritivos e novas hipóteses a serem formuladas.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Questão 3

Quando nos referimos ao estudo da distribuição de um evento em uma população, ou seja, ao estudo que busca determinar a distribuição das doenças e das possíveis condições de saúde, de acordo com tempo, local do evento ou características da população estudada.

Sobre qual estudo o texto-base se refere? Assinale a alternativa correta:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Os estudos descritivos referem-se ao estudo da distribuição de um evento em uma população, ou seja, determinar a distribuição das doenças e das possíveis condições de saúde, de acordo com tempo, local do evento ou características da população estudada. 

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Referências

COSTA, M. F. et al. The Bambuí health and ageing study (BHAS): methodological approach and preliminary results of a population-based cohort study of the elderly in Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 2, p. 126-135, 2000.

LOTUFO, P. A. Construção do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Revista de Saúde Pública, v. 47, p. 3-9, 2013.

Bons estudos!

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