Função do brincar na educação infantil
Tanto o professor quanto o aluno atribuem finalidades para o brincar. Confira como cada um desses agentes entende a função do brincar na escola.

Fonte: Shutterstock.
Deseja ouvir este material?
Áudio disponível no material digital.
Praticar para aprender
Olá, estudante!
Nesta seção, vamos compreender os caminhos para que o desenvolvimento integral da criança aconteça a partir do trabalho desenvolvido na educação infantil. Como já estudamos, essa etapa de ensino deve favorecer o desenvolvimento físico, cognitivo, social e afetivo dos alunos de zero a cinco anos. Para pensarmos como o professor pode auxiliar nesse processo vamos retomar as teorias desenvolvidas por Piaget e Vigotski, refletindo como o trabalho pedagógico deve ser estruturado para atender às necessidades e demandas dos alunos. Juntos, estudaremos os conceitos de esquema, acomodação, assimilação e equilibração, analisando como o desenvolvimento impulsiona a aprendizagem da criança. Também vamos observar o papel do contexto social para o nascimento cultural da criança, o qual potencializa seu desenvolvimento social e afetivo.
Outra discussão que estará em nossas análises é a função do brincar na educação infantil. Como apresentado nas políticas educacionais, a educação infantil deve ser alicerçada a partir de práticas de educação e cuidado que atendam às especificidades do público atendido e o brincar pode ser observado como uma atividade que favorece o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Assim, analisaremos como ele ocorre e como o professor pode organizar o tempo e o espaço para que as brincadeiras aconteçam da melhor forma possível.
Em um município do interior, foi construído o Centro de Educação Infantil Ruth Rocha para atender às necessidades da comunidade local. A escola é de pequeno porte e atenderá oito turmas de creche e pré-escola. Além dos dez professores que atuarão com as crianças, a instituição conta com o trabalho da pedagoga Lúcia e da diretora Márcia. No início do semestre, foi organizada uma reunião pedagógica para dialogar sobre a estruturação das práticas pedagógicas. A diretora Márcia, durante a reunião, agradeceu a participação de todos na elaboração do projeto político-pedagógico e do currículo da escola, relatando que a parceria só se efetivou porque todos trabalharam em uma perspectiva de gestão democrática. Márcia também pontuou que a pedagoga Lúcia estará à disposição dos professores para auxiliá-los com o planejamento e as ações que serão realizadas em sala de aula, visando ao atendimento das demandas apresentadas no currículo da escola.
Nosso desafio será auxiliar no dilema enfrentado por duas docentes da escola. Na sala de professores, Júlia e Cláudia estão dialogando sobre práticas que realizam com as crianças bem pequenas. Ambas as docentes atendem turmas com alunos de dois anos de idade e compartilham as angústias no momento de estabelecer práticas que auxiliem o desenvolvimento integral de seus alunos. Pensando sobre esses anseios, as professoras combinaram de estudar juntas sobre o desenvolvimento como um processo social e o brincar como possibilidade educativa.
A necessidade se originou quando Júlia relatou um episódio em que o aluno Manoel viu a figura de uma cabra e chamou o animal de vaca. Mesmo explicando ao aluno que eram animais diferentes, a criança insistiu dizendo que era uma vaca, pois tinha pelos e produzia leite. A partir dessa situação, Júlia ficou intrigada e percebeu a necessidade de retomar estudos que expliquem a construção feita pelo aluno. Nesse processo, Cláudia também relata a relevância de pensar o brincar para auxiliar os alunos nas atividades escolares.
A partir dessa situação, reflita sobre o episódio descrito com base nas contribuições de Piaget e retome o papel do brincar apresentado por Vigotski.
Bom trabalho!
conceito-chave
ASPECTOS QUE POSSIBILITAM O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA DE ZERO A CINCO ANOS
Todo professor que atua na educação infantil tem como desafio descontruir qualquer ideia de que a criança se encontra na escola para recreação. Os alunos devem estar inseridos desde pequenos nos espaços escolares, pois todas as práticas desenvolvidas nesse espaço têm finalidades educativas que permitem seu desenvolvimento e sua aprendizagem. A junção destes conhecimentos adquiridos na creche e pré-escola será fundamental para os processos escolares vindouros.
Por essa questão, temos no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 a afirmação de que a educação infantil deve garantir o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade que já apresenta para a criança o acesso à cultura desde o nascimento. Para pensarmos tais aspectos, retomaremos as contribuições de Piaget e Vigotski.
ESQUEMA
Quando analisamos as possibilidades de potencializar o desenvolvimento físico, psicológico e intelectual da criança é preciso considerar as contribuições de Piaget. O teórico aponta que o primeiro conceito a ser considerado no desenvolvimento infantil é o esquema. Assim como nosso corpo, a mente humana também é organizada a partir de estruturas com funções determinadas. O esquema pode ser comparado a um arquivo que possui várias fichas. Conforme a criança se desenvolve, aumenta o número de fichas para dar conta da adaptação do sujeito ao meio social e sua atuação nesse contexto (WADSWORTH, 1999).
Para exemplificar, vamos pensar como os esquemas se modificam e se expandem ao longo do desenvolvimento. Imagine uma situação escolar na creche, com crianças de dois anos, em que a professora está realizando a leitura de um livro para os alunos. Em algum momento, uma criança vê a figura de um pônei e chama-o de cachorro. Essa situação ilustra que, ao ver o pônei, o bebê de dois anos tentou encaixar essa informação em um esquema que ele já conhece: um cachorro. Se analisarmos as características dos animais, ambos possuem pelos, têm quatro patas e são de pequena estatura. A criança utilizou seu aparato cognitivo para entender o contexto, e é papel do professor possibilitar que essa criança tenha contato com a nova informação, de modo a auxiliá-la na ampliação de seu esquema cognitivo (FREITAS; ASSIS, 2007).
ASSIMILAÇÃO
O próximo passo para que a criança amplie seus esquemas cognitivos é a assimilação. Ela se refere “ao processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra um novo dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de comportamento já existentes” (WADSWORTH, 1999, p. 19). Como vimos no exemplo anterior, a criança procura adaptar os novos conceitos (pônei) aos esquemas que ela já possui (cachorro). A assimilação tem justamente o papel de classificar nossos conceitos aos esquemas já existentes. É nesse ponto que a criança constrói novos saberes, pois a assimilação não altera o esquema, mas amplia-o, enriquecendo o repertório da criança.
ACOMODAÇÃO
A mudança do esquema é ocasionada pelo que Piaget denominou acomodação. Isso ocorre quando as características de um novo estímulo não são adequadas para o encaixe dos existentes. Neste caso, a criança precisa construir um novo esquema ou alterar um esquema prévio para que o novo estímulo faça parte dele. Vamos retomar nosso exemplo: ao ver a imagem do pônei, a criança tentou encaixar o estímulo no esquema que ela já havia construído (cachorro). No entanto, o professor apresentou para a criança esse novo animal, assim ela modifica o esquema já existente, observando que há outros animais com pelos, quatro patas e de pequeno porte além dos cachorros. Isso é a acomodação, pois a criança não amplia, apenas, seus esquemas, mas os altera, mudando sua estrutura cognitiva. Entretanto, vale destacar que:
De modo algum, é esperado da criança, que está assimilando e acomodando, ativamente, que desenvolva esquemas que assumam uma forma particular. Nas concepções de esquemas, aqui usadas, está implícita a ideia de que os esquemas são construídos sobre as experiências repetidas. Os esquemas refletem o nível atual da criança de compreensão e conhecimento do mundo. Os esquemas são, por ela, construídos. Como construções, os esquemas não são cópias exatas da realidade. Suas formas são determinadas pela assimilação e acomodação como experiência e, com o passar do tempo, elas se tornam cada vez mais próximas da realidade.
Algo que devemos ter em mente é que não existem episódios em que só ocorre assimilação ou acomodação. Eles acontecem como processos de forma articulada, visto que a estrutura da criança fica disponível para um novo processamento, em que um estímulo pode ser encaixado a uma estrutura existente (assimilação) e, também, pode acontecer de ser realizada uma modificação no esquema (acomodação).
É importante entendermos que a assimilação é responsável pelo crescimento e a acomodação, pelo desenvolvimento, e, juntas, possibilitam a adaptação intelectual e física da criança ao meio social em que vive (ABREU et al., 2010).
Também é importante ter um balanço entre assimilação e acomodação. Imagine se o aluno do nosso exemplo apenas assimilasse o estímulo do pônei, dificilmente ele compreenderia a infinidade de animais da natureza. Ou se fosse ao contrário, se a criança modificasse sua estrutura ao novo estímulo sem tentar, ao menos, classificá-lo em seus esquemas já existentes, ela provavelmente teria dificuldades em generalizar. Piaget denomina esse balanço entre assimilação e acomodação em equilibração, que está relacionado ao processo de transição entre o desequilíbrio para o equilíbrio. Esse processo possibilita que as experiências externas sejam incorporadas às estruturas internas (WADSWORTH, 1999).
Esses conceitos corroboram para a reflexão sobre o modo como a criança se apropria do saber e se desenvolve na esfera intelectual, física e psicológica, mas também devemos considerar que os campos afetivo e social são fundamentais para a constituição integral da criança. Para essa discussão, vamos retomar as contribuições de Vigotski.
CAMPOS AFETIVO E SOCIAL
Na perspectiva apresentada por Vigotski, a criança tem dois nascimentos: o natural e o cultural. O último citado se refere à inserção do bebê ao mundo de seus cuidadores, que são sujeitos experientes e com bagagem de vivências sociais (VIGOTSKI, 2007).
O bebê em seus primeiros meses de vida é movido por estímulos e sinais de caráter instintivo, como os animais. Devemos compreender que o aspecto físico do desenvolvimento também é necessário, pois a articulação entre a motricidade e a sensorialidade são as vias de entrada da criança nas práticas sociais. Por isso, quando um bebê tem alguma deficiência, é fundamental realizar a estimulação precoce dos outros sentidos, buscando, por vias alternativas, formas de compensação social para que ele se desenvolva plenamente (VIGOTSKI, 2007).
A criança inicia o processo de atribuição de sentido à realidade a partir de seu desenvolvimento social e afetivo.
Mas você pode estar se perguntando: o que é desenvolvimento social? Ele se refere às relações que o indivíduo estabelece com o contexto onde está inserido, apropriando-se dos saberes disponíveis neste contexto e, também, produzindo conhecimentos. Como já mencionado, os pais são os primeiros sujeitos que interagem com o bebê, e são eles que darão oportunidades de acesso às significações (PINTO, 2005).
Uma ilustração do início desse processo é pensarmos o simples movimento de apontar do bebê. Para a criança, esse movimento é um ato natural e biológico, mas para o adulto ele é repleto de significação. Quando o bebê aponta para algo o adulto diz para ele “você quer esse brinquedo” ou, até mesmo, dá para a criança o objeto. Naquele momento, o bebê não sabe que apontar lhe proporciona algo, mas a partir de várias experiências ele internaliza essa ação e atribui significado a ela (PINTO, 2005).
Nosso exemplo evidencia o quanto as trocas sociais viabilizam a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. Nesse ponto, vale ressaltar o papel da escola desde os primeiros anos de vida, pois as interações entre os alunos e as trocas que acontecem nas práticas planejadas pelo professor potencializam o processo de inserção cultural da criança, visto que ela se apropria, pouco a pouco, das significações construídas historicamente pelos homens. Aqui, cabe a discussão do desenvolvimento afetivo da criança, pois a partir das interações ela interioriza os saberes experienciados. Neste viés:
A importância do processo educativo como potencializador de novas necessidades humanizadoras decorre do fato de que, à medida que impulsiona relações significativas entre o sujeito e o conhecimento dos objetos sociais e das pessoas, por intermédio da atividade da criança, o professor cria possibilidades de afetá-la positivamente, de mobilizar sua potência para conhecer e atribuir sentidos ao que conhece, atuando inseparavelmente sobre os processos cognitivos e sobre os processos afetivos da criança.
O aspecto afetivo contribui com o desenvolvimento no movimento da criança de incorporar os saberes culturais à sua subjetividade. A escola deve possibilitar experiências que instiguem na criança o desejo de conhecer, compreender, expressar e demostrar sentimentos e emoções. E como esse trabalho pode se organizar? De que forma o professor estrutura a prática para possibilitar esse desenvolvimento integral? Essas questões podem ser refletidas a partir do papel do educar e cuidar nessa etapa de ensino.
Reflita
Nesta seção, é evidenciada a importância do brincar para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças na educação infantil. As brincadeiras se configuram como atividades que fazem com que a criança expresse seu entendimento sobre a realidade e as relações sociais que fazem parte dela. Por esse aspecto, a atividade lúdica proporcionada na escola precisa ser organizada para que o brincar seja eixo central de suas práticas. Com base no exposto, para você, como o brincar deve ser inserido na proposta pedagógica do centro de educação infantil? Qual participação o professor precisa ter nessa inserção?
Antes de tratarmos do papel do brincar na efetivação do brincar e do cuidar, vamos relembrar os estágios do desenvolvimento segundo Piaget?
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
Estágio sensório-motor (0 a 24 meses)
Nesta etapa, o bebê começa a atuar na realidade a partir de ações impulsionadas pelos sentidos e motricidade. Nos primeiros dias de nascimento, o funcionamento dos movimentos da criança ocorre a partir dos reflexos inatos e com o passar dos dias sua percepção motora vai se aprimorando. A consciência da criança sobre o ambiente externo se amplia, resultado das ações de deslocamento do corpo até os objetos. Para explorar o ambiente, o bebê utiliza suas percepções sensoriais e motoras simples. O desenvolvimento nesse estágio favorece a percepção sobre os objetos, reconhecimento do mundo externo e primeiras representações simbólicas.
Estágio pré-operatório (dois a seis anos)
Nessa fase do desenvolvimento, a criança internaliza as ações do contexto social, representando-o mentalmente. Ela também realiza atividade de imitação dos papéis sociais de pessoas que convivem com ela (mãe, pai, avó, bebê, professora, médico, entre outros). Essas representações auxiliaram na aquisição e no aperfeiçoamento da linguagem, seja ela pela fala, ou por sinais, como o caso das crianças surdas. Nesse estágio também é observada a capacidade de construir símbolos e o entendimento dos sentidos sociais das ações dos sujeitos no contexto. Outra característica marcante são as atitudes egocêntricas, em que a criança se enxerga como o centro da realidade.
Operatório concreto (seis a doze anos)
A partir do processo de equilibração, em que os estímulos foram encaixados (assimilação) e/ou ampliados (acomodação), a criança consegue realizar operações concretas. Sendo assim, ela adquire a habilidade de separar, ordenar, combinar e transformar ações e objetos. Nessa fase, o egocentrismo já não se configura como uma postura da criança e ela começa a ter facilidade em realizar atividades em grupo. A partir das operações, os saberes anteriormente adquiridos pela criança vão se transformando em conceitos.
Operatório formal (a partir dos doze anos)
Nesse estágio são desenvolvidas habilidades de se pensar em conceitos abstratos. Encontra-se presente o pensamento hipotético dedutivo, raciocínio lógico, raciocínio dedutivo, capacidade de resolução de problemas e de pensamento sistemático. A linguagem está desenvolvida e permite haver discussões lógicas e que cheguem a conclusões. É o momento de aprimoramento da inteligência das pessoas, em que há a capacidade de refletir a partir do seu próprio pensamento, ficando cada vez mais consciente das operações mentais que realiza em seu contexto.
O PAPEL DO BRINCAR NA EFETIVAÇÃO DO EDUCAR E DO CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Algo que já discutimos muito em nossa disciplina é a indissociabilidade entre o educar e o cuidar. Sabemos da importância de pensarmos o cuidar como possibilidade para a aquisição de conhecimento da criança, desvinculando-o de qualquer aspecto assistencialista. Para que as práticas pedagógicas aconteçam de forma articulada, é fundamental ao professor considerar, no momento do planejamento, o papel do brincar. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, o brincar se configura como um dos direitos de aprendizagem, o qual deve ser possibilitado
cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
O brincar é uma atividade humana que possui um motivo e objetivo. Tanto o professor quanto o aluno atribuem finalidades para o brincar. Para o professor, o motivo do brincar está relacionado com o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos, já que seu objetivo vincula-se à apropriação de conhecimentos pelos educandos. As crianças são motivadas a brincar pelo prazer que essa ação proporciona; sendo assim, seu objetivo, que se caracteriza de forma implícita, está na simples possibilidade de satisfazer seu desejo por essa ação.
Vale destacar que o brincar é uma ação social que se aprende. Por meio dela, a criança cria condições de expressar suas significações sobre o mundo e realiza interações que contribuem para sua constituição (LEONTIEV, 2014).
O brinquedo torna-se um instrumento mediador entre a criança e a realidade. Desta forma, sua principal finalidade não está em um possível produto, mas no processo da ação realizada pela criança, ou seja, são o manuseio e as experiências possibilitadas que motivam a atividade da criança.
Suponhamos, como exemplo, que uma professora que atua na creche apresenta uma atividade em que as crianças devem construir algo utilizando blocos de madeira. Para as crianças, o que interessa é a ação de construir, em outras palavras, é produzir uma casa, castelo, edifício etc. com os blocos. O prazer e a diversão não se encontram na construção finalizada, mas em fazê-la. Para Leontiev (2014, p.125), o brinquedo é importante para a criança:
A partir da sua necessidade de agir em relação não apenas ao mundo dos objetivos diretamente acessíveis a ela, mas também em relação ao mundo mais amplo dos adultos. Uma necessidade de agir como um adulto surge na criança, isto é, de agir da maneira que ela vê os outros agirem, da maneira que lhe disseram, e assim por diante.
Os jogos são tão relevantes quanto os brinquedos, pois se referem às atividades compostas por um sistema de regras e que pode (ou não) ter um objeto físico para representá-los. O jogo possui significados do contexto social, pois suas regras foram construídas pelos indivíduos. Elas determinam como cada participante deve se comportar, apresentam os limites e o alcance de cada um no jogo. Esse fator é importante para a criança compreender a necessidade de respeito pelo espaço, direito e tempo do outro. Também permitem ao aluno entender que em uma realidade compartilhada encontram-se normas estabelecidas que devem ser acatadas.
De acordo com Kishimoto (2006), o jogo possui algumas características específicas, como o efeito positivo, o qual se refere à sensação de alegria e prazer experimentado pela criança, possibilitando efeitos significativos nos aspectos social, corporal e moral. Outra característica é a flexibilidade, pois os jogos podem ser realizados em diversas culturas, adequando-se à realidade dos indivíduos. O jogo infantil também pode ser livre e espontâneo, proporcionando à criança autonomia e tomada de decisão.
A partir deste contexto, devemos lembrar que a criança realiza a ação do brincar desde os primeiros anos de vida por meio das interações familiares, mas como os professores podem considerar e inserir o brincar como ação pedagógica para a potencialização do desenvolvimento e da aprendizagem na educação infantil?
As brincadeiras trazem várias funções para o trabalho pedagógico. Um primeiro ponto que podemos citar são as informações sobre o desenvolvimento da criança que são fornecidas no ato de brincar. O professor pode realizar observações de como as crianças se colocam na brincadeira, suas capacidades de uso da linguagem e as habilidades afetivas e emocionais que cada aluno tem.
A ação intencional subsidiada pela análise das brincadeiras das crianças propicia ao docente material adequado, assim como um espaço organizado para o brincar permite o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacionais da criança (KISHIMOTO, 2010).
É uma atribuição do professor planejar situações para que o brincar aconteça de modo diversificado, dando às crianças oportunidade de autonomia nas escolhas sobre os papéis sociais que querem exercer, os temas das brincadeiras, os jogos que desejam brincar e a elaboração de regras a partir de decisão coletiva.
Exemplificando
Verificamos o quanto as brincadeiras e os jogos são importantes para o desenvolvimento das crianças, pois se tornam o modo como elas vão expressar sua visão de mundo e vão se apropriar dos elementos culturais. No que se refere à necessidade de dar liberdade para que a criança construa suas próprias regras nos jogos, é fundamental que isso seja discutido no coletivo de alunos. Vamos supor que as crianças estejam brincando de futebol no momento do brincar livre, mas na turma se encontra um aluno com deficiência física que possui dificuldade de chutar a bola. As crianças, a partir de uma decisão coletiva, podem adaptar as regras do jogo para que o amigo consiga realizar a atividade de forma ativa. Isso faz com que a ação do brincar seja invalidada? Não, pelo contrário, os alunos tiveram a condição de pensar em uma solução para o problema em conjunto.
O docente deve considerar o caráter espontâneo e imaginativo do brincar. Por essa razão, essa prática não pode ser engessada. Dar liberdade às crianças não significa que a ação do brincar não seja de cunho pedagógico, pelo contrário, o fato de o professor organizar o espaço e o tempo da brincadeira, observar as potencialidades e os limites das crianças pela análise das situações de brincar são atitudes de aspecto educativo.
A aprendizagem decorrente da brincadeira vem da experimentação que a atividade propicia. O professor pode possibilitar grande experimentação por parte das crianças. As maneiras de mediação que o professor pode utilizar no ambiente da educação infantil são muitas, basta que ele reconheça o valor dos objetos, do ambiente, da sua ajuda e orientação e, principalmente, da sua organização, para assim possibilitar uma qualidade no brincar de seus alunos.
A atuação do docente é imprescindível para que, na escola de educação infantil, os alunos possam, em situações de interação social ou sozinhas, expandir suas habilidades e assimilar os conceitos, os códigos sociais e as diferentes linguagens a partir da expressão e comunicação de sentimentos, da experimentação, da reflexão, da elaboração de questionamentos e da construção dos próprios brinquedos.
Neste viés, o professor deve conhecer e considerar as especificidades dos educandos de diferentes idades, bem como a diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças e etnias, respeitando as diferenças e expandindo os processos de socialização. Nesse espaço, o professor deve estabelecer a mediação entre os alunos e os objetos de conhecimento, possibilitando espaços e situações de aprendizagens que vinculem os recursos e as capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada educando aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos dos saberes (BRASIL, 1998).
É preciso considerar o educar, cuidar e brincar como elementos integrativos das práticas na educação infantil. É direito da criança o acesso às experiências que potencializem seu desenvolvimento e favoreçam a aprendizagem essencial. O cuidar está relacionado às necessidades básicas da criança, que podem ser atendimentos vinculados ao aprender. O momento da alimentação e da higiene pode se transformar em um espaço de aprendizado e descobertas, em que o professor poderá planejar ações que atendam às demandas educativas da turma. Essas ações podem ser trabalhadas a partir do brincar, de forma lúdica, pois na educação infantil essa é a via de expressão e relação da criança com o mundo (KISHIMOTO, 2010).
Para que isso se concretize é fundamental essa articulação estar expressa no projeto político-pedagógico da escola, bem como no currículo e planejamento docente. É necessário um trabalho colaborativo entre todos os atores da realidade escolar para que as normativas apresentadas nas principais políticas de cunho curricular se efetivem na realidade, bem como o atendimento das especificidades da localidade atendida e das demandas dos alunos (BRASIL, 1998).
Assimile
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), para que o desenvolvimento seja potencializado, o docente deve considerar na estruturação da prática pedagógica: a interação com crianças da mesma idade e de idades diferentes em situações diversas como fator de promoção da aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade de relacionar-se; os saberes prévios de qualquer natureza, que as crianças já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem por meio de uma construção interna ao relacionar suas ideias com os novos conceitos que dispõem e com as interações que estabelecem; a singularidade e a diversidade em sala; o grau de desafio que as atividades apresentam e o fato de que devem ser significativas e apresentadas de maneira integrada para as crianças e, por fim, a resolução de problemas como forma de aprendizagem.
Se olharmos para a BNCC, no campo de experiência “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” encontra-se um objetivo de aprendizagem para as crianças bem pequenas (EI02ET06) que pretende utilizar conceitos básicos de tempo (agora, antes, durante, depois, ontem, hoje, amanhã, lento, rápido, depressa, devagar). Articulando com a importância do brincar e do faz de conta, como apontado por Piaget, esse tipo de brincadeira pode favorecer o alcance desse objetivo, visto que, ao representar um papel social, a criança narra e interpreta uma história que ela construiu a partir das suas experiências.
Exemplificando
Se a criança brinca de “alimentar o bebê”, ela segue os passos de seu cuidador que coloca a comida na colher, esfria o alimento (tempo) leva a comida à boca da boneca (devagar). Se ela está brincando de bombeiro, ela compreende que o “fogo no prédio” precisa ser apagado rapidamente (depressa – agora) para que ninguém se queime. O professor precisa articular esses conhecimentos com a prática, compreendendo o papel do brincar para o desenvolvimento de seus alunos.
Nesta seção, tivemos a oportunidade de ficar ainda mais próximos da prática. Para finalizar, aproveite esta dica:
Por dentro da BNCC
No campo de experiência “Escuta, fala, pensamento e imaginação” encontramos três aprendizagens que são fundamentais para a escolarização das crianças na educação infantil, a saber:
- Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios.
- Argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizando e adequando sua fala ao contexto em que é produzida.
- Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas.
Articulando-as com discussões que foram possibilitadas nesta seção, observa-se o quanto o brincar auxilia na aquisição dessas habilidades, pois, a partir de atividades de jogos e brincadeiras de faz de conta, a criança consegue expor o que pensa e sente, dando para nós pistas de como está se desenvolvendo. Ela também tem a oportunidade de relatar fatos do dia a dia, seus anseios, desejos e o entendimento da sequenciação do tempo (horas, dias, meses) e do espaço. O brincar estimula a imaginação da criança, propiciando momentos de liberdade e criação, fato que coloca o sujeito como produtor de conhecimento e cultura.
Faça valer a pena
Questão 1
No Centro de Educação infantil Clarice Lispector, a professora realizou uma atividade lúdica com os alunos. A atividade aconteceu da seguinte forma: a docente retirava do baú objetos e as crianças deveriam nomeá-los. A professora retirou uma motocicleta e no mesmo momento o aluno Bernardo levantou a mão dizendo que o objeto era uma bicicleta. Após a fala do aluno, a professora elogiou a tentativa feita por ele, mas relatou que a peça se refere a uma motocicleta. Em seguida, ela explicou as diferenças entre os objetos.
Com base nessa situação e considerando os conceitos apresentados por Piaget, é correto afirmar que o processo realizado por Bernardo é:
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Correto!
O processo realizado pelo aluno foi de classificar novos conceitos aos esquemas já existentes. Na assimilação, a criança constrói novos saberes, pois os esquemas ampliam as possibilidades de desenvolvimento cognitivo, enriquecendo o repertório da criança.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Questão 2
Leia o excerto a seguir:
“Uma criança que imagina um motorista em uma brincadeira reproduz talvez a forma de agir único motorista que ela viu, mas sua própria ação é uma representação, não de um certo motorista concreto, mas de um motorista ‘em geral’, não suas ações concretas, tais como foram observadas pelas crianças, mas as ações de guiar um carro em geral, dentro dos limites, é claro, da compreensão e generalização dessas ações, que sejam acessíveis à criança” (LEONTIEV, 2014, p. 131).
Na citação, o autor apresenta o quanto a brincadeira é importante para o processo de ensino e aprendizagem da criança, pois a partir dessa ação ela expressa a forma como compreende a realidade. No que se refere ao brincar na escola, avalie as afirmações a seguir:
- Deve acontecer de diversas formas em diferentes espaços e tempos.
- Deve ocorrer apenas com a participação de outras crianças.
- Deve ampliar o repertório de saberes da criança.
É correto o que se afirma em:
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Correto!
Apenas as afirmativas I e III estão corretas, pois, segundo a BNCC, o brincar deve ocorrer de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
Questão 3
Toda criança brinca, visto que essa ação se torna a forma de ela se expressar e se relacionar com o meio e com o outro. Como a educação infantil se refere a uma etapa de ensino em que as crianças são inseridas a partir dos primeiros meses de vida, esse ambiente educativo se configura como um lócus de brincadeira. Em relação à atuação do professor frente ao brincar, avalie as asserções e a relação proposta entre elas:
- No brincar livre, a criança tem a liberdade de criar e estabelecer as regras e ações que serão realizadas, de modo que o professor deverá ser um observador da atividade.
PORQUE
- Ele deve dar à criança a autonomia necessária e, também, realizar mediação quando for preciso, para que a criança tenha maiores possibilidades de se expressar.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta.
Correto!
As afirmativas são verdadeiras e uma justifica a outra, visto que no brincar livre é dado à criança o protagonismo da ação. Ela seleciona, elenca, delega, atua, narra e constrói a atividade. Por isso, o professor deve analisar a ação, visando contribuir quando necessário e sem invadir o espaço de criação da criança.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Referências
ABREU, L. C. et al. A epistemologia genética de Piaget e o construtivismo. Revista Brasileira Crescimento e Desenvolvimento Humano. São Paulo, v. 20, n. 2, p. 361-366, 2010.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3auVSU1. Acesso em: 13. ago. 2020.
GOMES, C. A. V. O luar do afeto no desenvolvimento da criança: implicações educacionais. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 18, n. 3, p. 509-518, 2013.
LEONTIEV, A. N. Os princípios psicológicos das brincadeiras na pré-escola. In: VIGOTSKI, L. S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 12. ed. São Paulo: Ícone, 2014.
NAVARRO, M. S.; PRODÓCIMO, E. Brincar e mediação na escola. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Porto Alegre, v. 34, n. 3, jul.-set. 2012.
PINTO, A. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev S. Vigotski. São Paulo: Cortez, 2005.
VIGOTSKI, L. S. Formação social da mente. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
WADSWORTH, B. J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget: fundamentos do construtivismo. São Paulo: Editora Pioneira, 1999.