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Não pode faltar

Organização e planejamento na educação infantil de acordo com os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem

Natália Gomes dos Santos

Fonte: Shutterstock.

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Convite ao estudo

Olá, estudante. Você está preparado para um novo momento de estudos?

Todas as nossas unidades são importantes e interessantes. No entanto, essa unidade tem um “toque especial”, pois abordará a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), assunto relativamente recente e bastante pertinente para sua futura prática. Ela é fruto de discussão e articulação de diversos envolvidos nos processos educativos que pensaram o modo como os conteúdos mínimos em todas as etapas de ensino devem ser garantidos como direito primordial de nossos alunos. Por isso, a BNCC apresenta um conjunto de aprendizagens essenciais que, além de dar a oportunidade de acesso ao saber também favorece o desenvolvimento de competências e habilidades que propiciam aos indivíduos caminhos para resolução de conflitos e problemas com os quais eles poderão se deparar em suas práticas sociais.

E como você sabe, a educação infantil não pode faltar em uma discussão tão rica e repleta de contribuições. Sendo assim, essa unidade está organizada em três seções nas quais estudaremos a estrutura da BNCC e os possíveis caminhos para a implementação de suas diretrizes nas práticas docentes.

A primeira seção abordará os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem. Discutiremos como é necessário organizar o trabalho pedagógico a partir das interações e brincadeiras, favorecendo a construção de um ambiente que permite às crianças a apropriação e produção de saberes. Também observaremos a necessidade de valorização dos conhecimentos que os alunos possuem consigo, de modo que poderemos organizar as práticas a partir de tais saberes. Nesta seção, vamos reforçar a importância da diversidade de experiências para os alunos para que eles compreendam a relevância dos patrimônios cultural, artístico, científico e tecnológico.

Na segunda seção, nossa reflexão será sobre os campos de experiências. Verificaremos a importância do trabalho interdisciplinar, tendo como foco o atendimento às necessidades e potencialidades dos alunos. Observaremos o papel das experiências presentes na vida cotidiana da criança como subsídios para experiências subsequentes. Também trabalharemos conceitos fundamentais, tais como: espaço, tempo, regras e rotina no arranjo curricular com campos de experiência.

A terceira seção será o momento de refletirmos sobre a organização do espaço, do tempo, dos materiais e das interações de acordo com as etapas da educação infantil. Também abordaremos os diferentes estímulos de acordo com a respectiva etapa de ensino, incluindo as TDICs. Por fim, verificaremos a relevância da utilização do corpo, da arte e das múltiplas linguagens nos processos de educação e socialização dos bebês e crianças.

Ficamos até empolgados com tantos assuntos interessantes, não é mesmo? Vamos iniciar?

Praticar para aprender

Olá, aluno. Nessa seção trabalharemos aspectos muitos importantes para sua futura atuação na educação infantil. Como você já sabe, a BNCC é o documento central para a construção dos currículos escolares e influenciará diretamente seu planejamento pedagógico enquanto docente. Por essa razão, iniciaremos nossa discussão analisando os dois eixos estruturantes que são a base para a construção das práticas na educação infantil: as interações e as brincadeiras. Verificamos que as interações devem ser propiciadas em toda a trajetória das crianças nessa primeira etapa de ensino, considerando que as relações sociais e as trocas de saberes e experiências são fundamentais para a aquisição de conhecimentos. Também notaremos que as brincadeiras são ações que geram aquisição de saberes culturais e produção de conceitos.

Nessa seção, também conheceremos os seis direitos de aprendizagem que devem ser garantidos na educação infantil, os quais são: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Todos devem ser propiciados a partir de práticas que articulem o cuidar e o educar, considerando a criança como protagonista do processo de ensino e aprendizagem. Por essas questões, o professor precisa entender as singularidades das diferentes fases do desenvolvimento e adequar a socialização de saberes às necessidades de seus alunos.

Por fim, vamos estudar como devem ser considerados os saberes das crianças e como as experiências podem favorecer a valorização do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Nesse momento verificaremos a importância de os conhecimentos serem mobilizados a partir das competências gerais e observaremos como o trabalho do professor deve estar alinhado às demandas apresentadas na BNCC, sempre visando a ampliação do repertório de seus alunos.

No Centro de Educação Infantil “Monteiro Lobato”, os professores foram convocados para uma reunião sobre a implementação da Base Nacional Comum Curricular na escola. A diretora Cátia relata que pensar e construir ações e práticas será um desafio para todos, pois a BNCC é um novo documento que apresenta as aprendizagens essenciais sobre as quais todos os alunos devem se apropriar. A diretora também ressalta que será um momento de muitas trocas e conhecimentos para todos, pois os planejamentos e as ações serão compartilhados e dialogados entre os profissionais da escola. Para finalizar a reunião, Cátia pontua que os professores deverão refletir sobre os direitos de aprendizagem, os campos de experiência e os objetivos de aprendizagem.

Nossa situação será a seguinte: Flávia é docente do Centro de Educação Infantil há 20 anos e após a reunião dos professores ela procura a diretora Cátia para relatar sua insegurança sobre este novo momento no espaço pedagógico. Cátia conversa com a professora, pontuando que, apesar dos desafios, a BNCC possibilita uma nova perspectiva de aprendizagem para todos e que isso deve ser analisado como ferramenta para melhorar as práticas pedagógicas. Cátia também enaltece o trabalho que Flávia realiza há anos e diz à professora que seu planejamento pedagógico sempre foi bem estruturado. Após este momento, a diretora pede para que Flávia analise os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem e estabeleça relação com o planejamento escolar.

Veja que o desafio foi dado para Flávia e agora você deverá ajudá-la na realização desta demanda solicitada pela diretora.

Vamos iniciar?

Você está animado para começar? Então, vamos lá!

conceito-chave

Os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem na BNCC

Sabemos a importância da BNCC para a educação básica brasileira. Esse documento de caráter normativo orienta atualmente a elaboração dos currículos das escolas, visando atender à exigência apontada na Constituição sobre a necessidade de conteúdos mínimos para todos. Ela apresenta as aprendizagens essenciais sobre as quais os indivíduos devem se apropriar e que auxiliam no desenvolvimento de competências que darão condições para que os indivíduos resolvam, à luz do saber científico, conflitos e problemas do cotidiano (BRASIL, 2018).

No que se refere à educação infantil, podemos observar que a BNCC apresenta enquanto eixos estruturantes das práticas pedagógicas as interações e as brincadeiras, que se referem às vivências em que as crianças poderão internalizar os saberes a partir de suas ações e interações com seus colegas e professores, propiciando desenvolvimento, aprendizagem e socialização.

A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. 

(BRASIL, 2018, p. 37)

Vale destacar que os eixos podem ser trabalhados de forma concomitante. Por exemplo, você poderá apresentar aos alunos uma brincadeira dirigida em que eles irão realizar um “caça ao tesouro das cores”. Nessa atividade você deixará pelo parque da escola várias pistas de cartelas com enigmas que levarão o aluno à leitura, como “minha cor é radiante e eu sou a beleza do sol – cor amarela”. Essa brincadeira poderá ser realizada em grupo, propiciando, assim, a interação entre as crianças.

Devemos considerar que as competências gerais também são propiciadas pelo trabalho desenvolvido na educação infantil. Elas podem auxiliar na construção de um repertório criativo e participativo, além de propiciar para a criança uma leitura da realidade por meio da relação entre o que ela enxerga ao seu reder e as atividades da escola. Essas competências possibilitam valorização da diversidade e respeito às diferenças a partir da empatia, comunicação, entre outros aspectos.

Sendo assim, podemos observar que os eixos estruturantes e as competências gerais são o alicerce para os direitos de aprendizagem na educação infantil. Esses direitos têm como finalidade propiciar o suporte para que todas as ações no campo educativo favoreçam a aprendizagem das crianças de zero a cinco anos. Os alunos devem ter um papel ativo, em que as descobertas sejam os caminhos para se apropriarem dos conceitos, saberes e vivências cruciais para a realização de toda a trajetória educacional. Além disso, os direitos de aprendizagem devem suscitar desafios para as crianças e formas de resolvê-los. (BRASIL, 2018).

Você já deve ter observado o quanto uma criança se desenvolve à medida que ela convive com outras crianças. Lembre-se dos momentos de interação das crianças entre elas e do modo como essa interação acontece.

A BNCC apresenta seis direitos de aprendizagem e o primeiro deles é o conviver, que se refere às possibilidades de interação entre os alunos, entre alunos e adultos e entre alunos e outras crianças. Essa convivência pode acontecer em atividades em grupos grandes e pequenos, por meio do uso de diversas linguagens, expandindo o saber que o aluno tem de si e dos outros indivíduos, sempre considerando a cultura e a diversidade que fazem parte do contexto educativo e social. Esse direito traz também benefícios, uma vez que, conforme Vigotski (2007), as pessoas se constituem na relação estabelecida com as outras e no contato com a cultura. Propiciar vivências desse porte para as crianças desde os primeiros meses de vida fortalecerá as possiblidades de desenvolvimento e aprendizagem.

O segundo direito de aprendizagem é brincar, o qual está relacionado aos diferentes modos, formas e parcerias de ações lúdicas. Esse direito propicia para nossas crianças a possibilidade de ampliação dos saberes e o acesso aos aspectos culturais, visto que seu conhecimento, imaginação e repertório criativo serão instigados pelas ações do brincar. Com base no planejamento bem estruturado do professor que considera esse direito, será possível oferecer aos alunos experiências que aperfeiçoem suas relações sociais, suas emoções, a expressão corporal e o aspecto cognitivo. Já vimos na disciplina os benefícios do brincar, pois essa ação traz o modo de a criança expressar a leitura de mundo e as ações incorporadas do contexto cultural. Quanto mais organizado o trabalho na educação infantil, visando ao atendimento desse direito, maiores são as condições de crescimento dos alunos. É importante lembrar que uma brincadeira em que a criança imita algum papel social fará com que ela compreenda e explicite o modo como está entendendo a realidade (LEONTIEV, 2014; BRASIL, 2018).

O direito de participar também foi instituído na BNCC. Algo bem interessante nesse direito é que a criança pode ser compreendida como protagonista dos processos escolares, pois além de participar das atividades que desenvolve como aluna, ela também poderá estar incluída nos processos de gestão da escola. Ela também poderá ter voz ativa nas tomadas de decisões sobre práticas, brincadeiras, escolha dos materiais e ambientes, sempre sendo incentivada a se posicionar em todo o processo educativo. Esse direito nos faz lembrar das contribuições de Maria Montessori quando explicita a necessidade de considerar a criança como sujeito ativo do processo, apresentando também o papel que devemos ter, enquanto educadores, no compromisso de organizar com uma prática pedagógica comprometida com uma educação sólida que favoreça o desenvolvimento do aluno em sua totalidade (LANCELOTTI, 2010).

O quarto direito de aprendizagem é o de explorar. De acordo com a BNCC, as escolas de educação infantil devem possibilitar às crianças atividades que estimulem sons, gestos, movimentos, formas, texturas e emoções. Também é fundamental haver espaços que permitam a exploração que impulsiona as formas de a criança se relacionar e se compreender no ambiente escolar e social, além de instigar o interesse sobre os saberes culturais nas inúmeras modalidades de escrita, artes, ciência e tecnologia. Sabemos que um direito como esse é fruto de conquistas sobre novas concepções de infância que considerem o aluno em sua totalidade, não limitando as condições para sua aprendizagem, mas antes favorecendo espaços que estimulem seu pensamento crítico e o potencial de descobrir e criar saberes e cultura (DURÁES, 2011).

Entre os direitos de aprendizagem, encontra-se o de expressar, o qual se constitui na possibilidade de a criança se formar como um indivíduo aberto ao diálogo, que seja sensível e criativo. A partir de diferentes linguagens, a criança terá a oportunidade de se colocar no mundo, apresentando seus sentimentos, emoções, opiniões, dúvidas, descobertas e questionamentos. Sabemos que o papel social da escola em uma perspectiva democrática é favorecer a constituição de sujeitos emancipados que saibam se colocar e argumentar sobre o que pensam e compreendem da realidade. Verifica-se que se iniciarmos um trabalho que dê à criança espaço para se colocar e lugar de fala para se posicionar, poderemos caminhar para a construção de uma sociedade justa, democrática que compreenda o direito das pessoas de viverem na diversidade (COSTA, 2006).

O último direito de aprendizagem abordado na BNCC é o de conhecer-se. Esse direito está relacionado à identidade pessoal, cultural e social, a qual deve propiciar ao aluno a construção de uma imagem positiva de si mesmo e dos outros, observando que a diversidade humana é uma riqueza que deve ser valorizada. Esse direito também favorece a compreensão de pertencimento dos indivíduos, o qual deve se dar em todos os espaços sociais em que ele está inserido (a escola, o lar e a comunidade), a partir da participação em várias atividades (BRASIL, 2018).

Em nossos estudos na disciplina, verificamos o quanto foi necessária a ressignificação da concepção de infância. Por meio da nossa análise, é possível observar que a BNCC vem ao encontro de uma concepção de criança como um ser social e histórico que deve ter possibilidades de questionar, criar, levantar hipóteses, assimilar saberes e produzir conhecimento. Esses direitos devem estar articulados em todas as práticas desenvolvidas na educação infantil, de forma transversal e intencional. Também é importante refletirmos sobre nosso papel enquanto educadoras e educadores que compreendem a necessidade de um trabalho consolidado na primeira etapa de ensino, pois o direito à educação foi conquistado de forma árdua e, por isso, tem que ser garantido da melhor forma possível (BRASIL, 2018).

O pluralismo de experiências como caminho para construção da subjetividade das crianças

Ao analisarmos cada direito de aprendizagem mencionado anteriormente vamos notar que eles estimulam a construção de inúmeras experiências da criança no contexto da educação infantil. Vários teóricos já evidenciaram para nós que as práticas pedagógicas não podem ser fragmentadas, que o aluno não pode ser compreendido como um sujeito passivo e que a educação infantil não é um espaço para recreação. Sendo assim, o professor precisa ter muito claro o modo como as atividades devem ser estruturadas, visando ampliar o repertório de conhecimentos e vivências dos alunos, ampliando, assim, as possibilidades de constituição de sujeitos críticos e reflexivos. Articulando essa discussão, é necessário considerarmos a relação entre aprendizagem e subjetividade. De acordo com Pedroza (2005, p. 62):

O aluno é um ser ativo, capaz de assimilar a realidade externa de acordo com suas estruturas mentais. Assimilar o mundo é transformá-lo, representando-o de forma subjetiva. A aprendizagem deve despertar o interesse, estimulando a curiosidade e a criatividade. Logo, o interesse relacionado à atividade lúdica na escola tem se mostrado cada vez maior por parte de pesquisadores e, principalmente, de professores que buscam alternativas para o processo ensino-aprendizagem.

Autor da citação

Partindo do exposto, podemos observar como a BNCC direciona a construção das propostas curriculares nas escolas de educação infantil, o que estimula a construção da subjetividade. De acordo com o documento, as crianças devem ter acesso a várias vivências, as quais ampliam seu repertório linguístico, cultural, social, criativo, cognitivo e emocional. Sendo assim, as práticas educativas devem ser estruturadas de forma intencional, analisando e avaliando as possibilidades de as crianças terem contato com várias experiências de diversas maneiras, tanto na creche quanto na pré-escola (BRASIL, 2018).

Uma das vias para que isso se concretize na realidade educativa é a experiência do brincar. Como já analisamos anteriormente, o brincar é uma atividade humana que propicia para o sujeito a apropriação e expressão dos saberes culturais. Sendo assim, os professores no momento de organizar as práticas pedagógicas devem levar em consideração o contexto dos alunos para que eles possam atribuir sentido à realidade a partir das experiências lúdicas e transformar seu contexto por meio de sua leitura do mundo (LEONTIEV, 2014).

Vamos refletira agora como é possível articularmos a BNCC e o brincar como caminhos para a construção da subjetividade. Se analisarmos as competências gerais da Base, vamos observar que uma delas traz a necessidade de conhecer as diversas formas artísticas e culturais locais e mundiais, além da participação em práticas diversificadas que envolvam a cultura. A partir dessa competência, o professor poderá refletir sobre a proposta de uma brincadeira de “baú do Brasil”, por exemplo, em que cada criança pegará um brinquedo que representa brincadeiras das diferentes regiões. A brincadeira começará da seguinte forma: você irá inserir objetos, fantasias e brinquedos que caracterizam várias regiões do país (chapéu gaúcho, mini guarda-chuva de frevo, um boneco do boi-bumbá, pandeiro etc.). Em seguida, você perguntará para elas se conhecem os objetos e as regiões. Se não conhecerem, você poderá apresentar para elas cada um dos objetos e as práticas a eles associadas com vídeos e músicas.

Nessa atividade, as crianças poderão conhecer a cultura, as diferenças, valorizar sua região e as demais. Deste modo, essas experiências serão internalizadas por ela e auxiliará na constituição de sua própria singularidade. Sendo assim, podemos constatar que:

A brincadeira assume um papel essencial porque se constitui como produto e produtora de sentidos e significados na formação da subjetividade da criança. Essa atividade proporciona um momento de descontração e de informalidade que a escola pode utilizar mesmo que isso possa parecer um paradoxo já que o seu papel, por excelência, é o de oferecer o ensino formal, mas tendo também de exercer um papel fundamental na formação do sujeito e da sua personalidade. Portanto, passa a ser sua função inclusive a de oferecer atividades como a brincadeira. 

(PEDROZA, 2005, p. 62)

Quando analisamos o papel da educação, fica evidente que a preparação para o exercício da cidadania é um dos aspectos mais relevantes para a constituição de um sujeito crítico e refletivo que compreende a importância de seu papel social para a construção de uma sociedade justa e igualitária. Por esses aspectos, nós, enquanto docentes, temos uma função importante para que nossos alunos se desenvolvam de forma integral: nossas práticas devem ser alicerçadas nos princípios que potencializam a constituição de um indivíduo capaz de resolver conflitos do cotidiano com ética, compromisso e responsabilidade. E esse trabalho começa desde a educação infantil, a partir da ampliação de experiências que favoreçam a aquisição das competências e habilidades, tendo enquanto alicerce os eixos de interações e brincadeiras.

Articulação entre as práticas e os saberes das crianças

As práticas pedagógicas devem articular as experiências que as crianças adquirem com os seus saberes. Para que possamos compreender com clareza essa informação é fundamental entender que nossos alunos são sujeitos ativos que têm conhecimentos que devem ser valorizados. Nesta lógica, a aprendizagem deve ser significativa, para que as crianças possam atribuir sentido à realidade mediante os conhecimentos científicos que socializamos enquanto professores. Mas o que seriam as aprendizagens significativas? A aprendizagem significativa é um dos conceitos mais relevantes da teoria da aprendizagem de David Ausubel. Para esse teórico, os alunos têm saberes prévios, tanto adquiridos das diversas experiências sociais quanto das vivências escolares. Os professores precisam compreender quais são esses saberes para organizar a prática pedagógica partindo deles. Podemos entender então que:

A aprendizagem significativa é aquela que o significado do novo conhecimento é adquirido, atribuído, construído, por meio da interação do conhecimento prévio. Para que essa aprendizagem seja realmente significativa, o professor tem que ter plena consciência do seu papel na formação do seu aluno, a partir daí, procurar desenvolver atividades que valorizem os conhecimentos que as crianças possuem, apanhados das mais variadas experiências sociais, afetivas, físicas, cognitivas a que estão expostas. 

(SANTOS; JÚNIOR, 2016, p. 3)

É importante que você, enquanto futuro professor, compreenda que o momento de aprender tem que ser prazeroso e repleto de sentido, fazendo com que a criança incorpore os conhecimentos e os utilize em suas diversas práticas sociais. Por conta dessa discussão, devemos analisar os aspectos apresentados na BNCC no que diz respeito à apropriação pelas crianças dos saberes que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico.

Vamos trabalhar com esses patrimônios a partir das competências gerais apresentadas na BNCC. Quando nos referimos aos saberes advindos dos patrimônios culturais e artísticos, podemos observar as contribuições da competência três que relata que se deve “valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural” (BRASIL, 201, p. 9).

De acordo Osinski e Oliveira (2019), as manifestações artísticas e culturais devem ser trabalhadas na escola, pois são a expressão dos saberes, perspectivas e análises da realidade, ou seja, são legado humano. A arte e a cultura levam a criança ao desenvolvimento da sensibilidade e mostram a ela as possibilidades desse mundo para que elas possam também compreender-se como produtoras de saberes. Nesse sentido, o professor deve ter um papel crucial para que os alunos tenham experiências e contato com esses conhecimentos em suas rotinas. Pensando em práticas, é importante que o professor conheça a cultura da localidade dos alunos, considerando os aspectos regionais, culturais e históricos. Práticas extraescolares, como visitas a museus, bibliotecas municipais, teatros etc. também podem ser considerados no planejamento do professor, a partir da mediação da gestão escolar. Caso essas experiências não sejam possíveis na realidade dos alunos e professores, os docentes poderão pensar em levar toda essa riqueza para a escola, a partir de oficinas de arte e peças teatrais que abordem a riqueza cultural da realidade das crianças. Vinculando com a discussão que fizemos anteriormente, é importante considerar os saberes prévios das crianças, sendo assim o professor poderá fazer um levantamento das informações sobre o que as crianças já sabem em relação a esse repertório cultural e artístico para que as práticas partam desses conhecimentos.

No que se refere ao patrimônio científico, podemos elencar a competência dois que apresenta a necessidade de:

exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

(BRASIL, 2018, p. 9)

Quando nos referimos à curiosidade intelectual estamos apresentando a necessidade de fazer com que as crianças tenham interesse em buscar explicações para suas perguntas. Elas gostam de questionar e saber o porquê das coisas e, nós, enquanto professores, temos que utilizar esse processo de descoberta como caminho para a construção dos conhecimentos. Por isso, é fundamental que o currículo da escola e planejamento do professor considerarem os objetivos de aprendizagem vinculados aos campos de experiência e os grupos etários, visto que se tornam norteadores sobre o modo como poderemos estruturar a prática visando as possiblidades de análise, reflexão e uso da imaginação pelas nossas crianças. Devemos sempre considerar que o conhecimento científico amplia a visão de mundo, humaniza e se torna um forte alinhado para a construção de uma sociedade justa, igualitária e sem preconceitos. Desta forma, oferecer aos nossos alunos essas experiências desde cedo é contribuir para a construção dessa sociedade (GALVÃO; BRASIL, 2009).

Também podemos observar a riqueza do patrimônio tecnológico para os processos de ensino e aprendizagem na educação infantil. De acordo com a competência geral cinco da BNCC, os alunos precisam estar aptos para:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

(BRASIL, 2018, p. 9)

A partir da competência é possível observar que o trabalho desenvolvido não é apenas propiciar acesso à tecnologia, mas ensinar a criança a utilizar como ferramenta para atuar nas práticas sociais de forma reflexiva. Laranjeiro, Antunes e Santos (2017) apontam que o professor deve ter clareza da relevância do uso das tecnologias, domínio desses recursos e incorporá-los às práticas pedagógicas, articulando com os saberes que as crianças precisam se apropriar em seu grupo etário e, também, dando oportunidades para que ela possa construir saberes a partir desse recurso. Atualmente, as crianças são compreendidas como nativos digitais, sendo assim a tecnologia faz parte do contexto da realidade de inúmeras delas. Por isso, a diversidade de experiências a partir de jogos interativos e atividades de pesquisas em grupo com orientação do professor são práticas interessantes. Vale salientar que a construção da autonomia frente ao uso das tecnologias também deve ser trabalhada em sala.

Observe que a educação infantil é um campo repleto de possibilidades de práticas, trocas, vivências e crescimento. Se comprometer com a educação das crianças é se comprometer com a construção de uma sociedade melhor e mais justa.

Assimile

Verificamos que o professor ao tomar a BNCC como documento norteador do trabalho pedagógico deve ter a compreensão sobre a necessidade de socializar o saber considerando os conhecimentos prévios dos alunos. Sendo assim, para que o ensino seja significativo é preciso estabelecer algumas estratégias que auxiliem esse processo. Elas se referem aos organizadores prévios que se configuram como recursos instrucionais que facilitam a aprendizagem, sendo a ponte entre os novos conhecimentos e os saberes sobre os quais os alunos precisam se apropriar. Na educação infantil, por exemplo, o professor pode iniciar uma atividade com uma roda de conversa, levantando informações das crianças sobre a temática trabalhada. Essa troca é muito interessante, pois os alunos poderão relatar o que sabem sobre o tema e, depois, poderão estabelecer relações sobre o que foi ampliado a partir das atividades pedagógicas.

Reflita

A educação infantil é compreendida como a base para a construção de uma sólida trajetória escolar. Desse modo, os aspectos de educar e cuidar estão presentes nos principais documentos que orientam o currículo da escola. Considerando a BNCC, como você acha que os direitos de aprendizagem podem ser assegurados a partir do educar e do cuidar?

Exemplificando

Notamos que um dos eixos estruturantes da BNCC são as interações. Como já estudamos na disciplina, as relações sociais são cruciais para o desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos, pois nessas trocas as pessoas internalizam os saberes e práticas culturais. Pensando sobre as possibilidades de interação na educação infantil, nós, enquanto professores, podemos estabelecer atividades pedagógicas em que as crianças possam trabalhar em grupo. Um exemplo é investigar na escola como as formas geométricas se apresentam nos seguintes espaços: biblioteca, parque, sala de informática, sala de aula, entre outros. As crianças podem ser divididas em grupos e, juntas, desbravar os ambientes da escola. Essa atividade é muito interessante, pois além da troca estabelecida entre elas também poderá ser articulado o conceito das formas geométricas com a realidade em que estão inseridas.

Foco na BNCC 

Podemos observar que a sétima competência geral se refere à possiblidade de

argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 

(BRASIL, 2018, p. 9)

Considerando as possibilidades de mobilizar tais conhecimentos na educação infantil é fundamental verificarmos a contribuição do eixo estruturante das brincadeiras para que esse processo se efetive. Por meio do brincar a criança poderá se posicionar, apresentando seu ponto de vista e o modo como entende as informações que internalizou. Ela também poderá tomar decisões nas escolhas das brincadeiras e negociar o uso de brinquedos com os colegas. No que se refere ao brincar dirigido, o professor também poderá elencar, enquanto temática, a necessidade de cuidado socioambiental, propiciando aos alunos possibilidades de pensar sobre seu papel social frente à relação com o meio social onde vivem.

Quando assuntos legais, mas calma, ainda teremos outros momentos de aprendizagem. Até lá!

Faça a valer a pena

Questão 1

A BNCC apresenta seis direitos de aprendizagem que devem ser garantidos às crianças a partir do trabalho desenvolvido na educação infantil. Dentre esses direitos, está o direito de brincar, o qual deve ser propiciado:

“cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais” 

(BRASIL, 2018, p. 38).

Considerando esse direito de aprendizagem para as práticas pedagógicas, avalie as afirmativas a seguir e marque V para verdadeiro e F para falso:

(  ) O direito de brincar possibilita a expansão dos saberes das crianças e favorece a construção de conhecimento.

(  ) O direito de brincar permite a reprodução de práticas sociais que auxiliam na modulagem do sujeito de forma acrítica.

(  ) O direito de brincar potencializa o repertório cultural e amplia as habilidades criativas dos alunos.

Agora, assinale a alternativa correta:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

A alternativa C está correta, pois a primeira afirmativa é verdadeira, visto que o brincar dá a oportunidade para a criança ter contato com o saber e as reflexões auxiliam na produção de conhecimento. A segunda afirmativa é falsa, pois o brincar tem o papel de dar ao indivíduo a oportunidade de fazer uma análise reflexiva e crítica da vida. A terceira afirmativa está correta, visto que o acesso à cultura e a estimulação da criatividade são elementos propiciados pelo brincar.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Questão 2

A apropriação do saber científico é um direito de todos os indivíduos garantido por lei. Sendo assim, nossas crianças devem encontrar um espaço propício que possibilite vivências que auxiliam na aquisição do conhecimento. Por isso, fica evidente o papel da educação infantil para a aquisição do saber. Destaca-se que esse processo deve acontecer a partir de uma aprendizagem significativa. Considerando esse aspecto, avalie as afirmativas a seguir:

  1. A aprendizagem significativa ocorre quando o sujeito atribui sentido à realidade a partir do saber.
  2. A aprendizagem significativa favorece o desenvolvimento das crianças, pois a estruturação da aprendizagem será realizada a partir dos interesses e da realidade dos sujeitos.
  3. Na aprendizagem significativa, os conhecimentos prévios dos alunos serão considerados como ponto de partida das ações pedagógicas.

É correto o que se afirma em:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Todas as afirmativas estão corretas, pois a aprendizagem significativa auxilia na apropriação de saberes que façam sentido para o sujeito. Também é fundamental considerar os interesses e a realidade do aluno nesse processo, o que somente será possível a partir da busca de informações sobre os conhecimentos prévios dos alunos. Ou seja, o professor deve entender que o aluno é um indivíduo com vários saberes, os quais precisam ser valorizados.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Questão 3

A educação infantil é um momento importante na formação dos indivíduos. Nessa etapa, os sujeitos se apropriarão de saberes básicos para sua trajetória escolar. Por isso, o docente precisa organizar o trabalho pedagógico de um modo que favoreça várias experiências que considerem os saberes dos alunos e que ampliem esse repertório. Sobre as possibilidades de acesso ao patrimônio científico, analise as afirmativas e marque V para verdadeiro e F para falso:

(  ) Deve ser exercitada a curiosidade intelectual dos alunos, partindo da abordagem científica.

(  ) As atividades devem favorecer a investigação, reflexão e a criticidade das crianças.

(  ) As crianças precisam compreender os modos de formular e resolver problemas, criando soluções.

Agora, assinale a alternativa correta:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Todas as afirmativas estão corretas, pois a apropriação do patrimônio científico é um direito da criança, sendo assim a curiosidade intelectual deve ser exercitada. O acesso ao patrimônio científico dá a oportunidade de o aluno refletir, analisar criticamente, elaborar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções para questões que se colocam para ele ao longo de sua vida escolar, profissional e pessoal.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3rcBFru. Acesso em: 22 set. 2020.

COSTA, M. C. C. A pedagogia de Célestin Freinet e a vida cotidiana como central na prática pedagógica. Revista HISTEDBR. Campinas, n. 23, p. 26-31, 2006.

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