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Com o aumento do acesso à internet ocorreu o esgotamento do protocolo IPv4 sendo necessário desenvolver uma nova versão do protocolo de comunicação surgindo o protocolo IPv6.
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A direção da escola Escola 1_A está muito satisfeita com os trabalhos realizados pela sua equipe até o momento. Os gestores, sempre preocupados em manter a qualidade da instituição, solicitaram uma reunião para garantir que a rede da escola tenha boa qualidade para atender às necessidades dos estudantes.
Em razão do grande volume de arquivos gerados pelos departamentos, foi adicionado um servidor na rede, conforme pode ser observado na Figura 3.1:
Porém, como a infraestrutura da escola já contava com as duas versões do protocolo de comunicação IP, configurado nos dispositivos para garantir o acesso aos arquivos, faz-se necessário efetuar a configuração do IPv6 no servidor.
Para isso, você deverá utilizar a técnica de tradução NAT (Network Address Translation) no IP destinado ao servidor (172.16.31.55) para que seja posteriormente configurado no dispositivo.
Ao utilizar uma das técnicas que permitem a coexistência e a interoperabilidade entre os protocolos IPv4 e IPv6, você poderá planejar e implementar redes preparadas para atender às necessidades nesse período em que as duas versões do protocolo IP terão que coexistir. Dessa forma, será necessário apresentar os cálculos para conversão de endereço IPv4 para IPv6 no formato de relatório.
O projeto da escola Escola 1_A está chegando ao fim. Você está preparado para enfrentar mais esse desafio?
Com o aumento do acesso à internet na maioria dos municípios, os novos serviços multimídia multiplataformas (Smart TV, celular e videogames) e a popularização da internet móvel fizeram que o esgotamento do protocolo IPv4 fosse antecipado, sendo necessário desenvolver uma nova versão do protocolo de comunicação.
É dessa necessidade de obter mais endereços que surge o IPv6. O projeto teve início na segunda metade da década de 1990, quando os engenheiros da IETF (Internet Engineering Task Force – Força Tarefa de Engenharia de Internet) previam o fim do IPv4.
A LACNIC (Latin American and Caribbean Internet Addresses Registry) é um órgão responsável pelos registros de endereços de internet na América e Caribe. Existem outras entidades para o gerenciamento em outros continentes: AfriNIC, ARIN, APNIC e RIPE. A LACNIC foi a responsável por efetuar o monitoramento do esgotamento do IPv4, conforme pode ser observado na Figura 3.16:
Repare que a última data da medição ocorreu em 14/08/2013, quando a LACNIC considerou esgotado o IPv4 (mesmo com um pouco menos de 35.000.000 endereços disponíveis). Por tais motivos e alegações, as empresas como Google, Yahoo e Facebook iniciaram a migração para o protocolo IPv6 em 2010.
Inicialmente o IPv6 surge no cenário de redes de computadores para suprir as necessidades do IPv4. Segundo Tanenbaum (1997), o novo protocolo deve:
Quando os engenheiros se reuniram para o desenvolvimento do novo protocolo, chamado de IPng (internet protocol next generation – protocolo de internet da nova geração), as suas características foram definidas por meio das RFCs, disponíveis em: www.ipv6.br. Acesso em: 20 jun. 2017. São elas:
As especificações desenvolvidas pelos engenheiros da IETF para o IPv6 fizeram com que fosse estruturado o cabeçalho demonstrado na Figura 3.17:
Cada campo tem as seguintes funções:
O endereçamento do protocolo IPv6 possui 128 bits (lembre-se de que o IPv4 possui apenas 32 bits), o que possibilita endereços possíveis, ou ainda 340 undecilhões. O seu formato é dividido em oito grupos com quatro dígitos hexadecimais, conforme pode ser observado: 8000:0000:0010:0000:0123:4567:89AB:CDEF (no IPv4 é dividido em quatro grupos com 8 bits cada, ex.: 192.168.0.100).
Vale lembrar que já estudamos a versão 4 do protocolo IP, então podemos trazer algumas comparações. Segundo Forouzan (2006), os protocolos possuem diferenças entres as duas versões, conforme se observa no Quadro 3.8:
Versão / Itens |
IPv4 |
IPv6 |
---|---|---|
Quantidade de endereços | 2³² | 2¹²⁸ |
Quantidade de campos | 14 | 8 |
MTU mínimo | 576 bytes | 1.280 bytes |
Representação do endereço | 4 Grupos com 8 bits | 8 Grupos com 16 bits |
Tamanho do endereço (bits) | 32 | 128 |
Roteamento | Tabela de roteamento grande | Efetuado pelo cabeçalho de extensão |
Segurança | IPSeg facultativo | IPSeg obrigatório |
Qualidade de serviço (QoS) | Sem garantia | Através dos campos, classe de tráfego e identificação de Fluxo |
Cabeçalho | Uso do checksum | Mais simplificado |
O cabeçalho do IPv6 foi simplificado, pois no IPv4 são utilizados 14 campos, enquanto na nova versão do protocolo são utilizados apenas oito deles. Como auxílio visual, repare na figura “Cabeçalho IPv6” e na figura ormato do Datagrama IPv4, que demonstra o formato do “Cabeçalho IPv4”.
Segundo Hagen (2002), IPv6 e IPv4 vão coexistir por muitos anos. E esse novo cenário acabou por gerar um novo problema, pois não é possível “abandonar” o protocolo IPv4 e começar a utilizar somente o protocolo IPv6. Tanenbaum (1997) define que, nesse longo período de transição, os administradores de redes e os provedores de internet preveem que possam ocorrer alguns impactos nas redes, como descrito a seguir:
Na maioria das redes atualmente é utilizada a primeira versão do protocolo, o IPv4. Apesar da urgência e da escassez da primeira versão, gradualmente os administradores de redes e ISPs (provedores) têm adotado a nova versão do protocolo, o IPv6. No entanto, o que ocorreu com as demais versões do protocolo [IPv1, IPv2, IPv3 e IPv5]?
Em razão da necessidade do período de coexistência entre os dois protocolos, as redes podem apresentar três possíveis cenários: rede IPv4 pura, rede IPv6 pura ou rede com pilha dupla (dual stack). Com isso, a estratégia para migração dos protocolos teve que ser planejada para que o impacto da transição não comprometesse a qualidade dos serviços providos.
Para resolver esse problema, a IETF formou grupo de trabalho denominado IPv6 Operations para que fossem desenvolvidas algumas normas e diretrizes para redes IPv4/IPv6. Com isso, o mecanismo de pilha dupla foi normatizado na RFC 1933.
Segundo Tanenbaum (1997), os dispositivos que têm a pilha dupla ativada terão dois endereços relacionados à sua interface de rede, um IPv4 e o outro IPv6.
Para que os datagramas possam “atravessar” a pilha dupla, o seguinte mecanismo exposto na Figura 3.18 deve ocorrer:
As mensagens provenientes da camada de aplicação utilizam o encapsulamento na pilha dupla para que sejam enviadas à camada de enlace, que, por sua vez, as conduz à camada física para que, então, sejam enviadas ao meio disponível (cabeado ou sem fio). Nesse sentido, existem duas possibilidades:
Com isso, é necessário que os dispositivos, como computador, servidor, câmera IP, impressoras IP e smartphone estejam com a pilha dupla habilitada.
A maioria das versões dos sistemas operacionais atualmente (Windows, Linux e MAC) possui suporte a pilha dupla, conforme a Figura 3.19:
É possível observar na segunda linha “Endereço IPv6 de link local”, o endereço IPv6 atribuído ao dispositivo.
Outra técnica utilizada para permitir a comunicação entre os dispositivos em redes operando com as duas versões do protocolo é empregar o mecanismo de tradução de endereços.
Definido na RFC 2766, esse mecanismo basicamente é capaz transformar um endereço IPv4 em IPv6 (equivalente). Para isso, devem-se realizar os seguintes passos (considere a conversão do endereço IPv4 192.168.20.112 no exemplo):
Primeiro grupo:
8 | 4 | 2 | 1 | 8 | 4 | 2 | 1 | |
1 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Em que,
1100 = 12
0000 = 0
Segundo grupo:
8 | 4 | 2 | 1 | 8 | 4 | 2 | 1 | |
1 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 |
Em que,
1010 = 10
1000 = 8
Terceiro grupo:
8 | 4 | 2 | 1 | 8 | 4 | 2 | 1 | |
0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 |
Em que,
0001 = 1
0100 = 4
Quarto grupo:
8 | 4 | 2 | 1 | 8 | 4 | 2 | 1 | |
0 | 1 | 1 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Em que,
0111 = 7
0000 = 0
Decimal | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 |
Hexadecimal | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | A | B | C | D | E | F |
1100 = 12 → C 0000 = 0 → 0, portanto 192 = C0
1010 = 10 → A 1000 = 8 → 8, portanto 168 = A8
0001 = 1 → 1 0100 = 4 → 4, portanto 20 = 14
0111 = 7 → 7 0000 = 0 → 0, portanto 112 = 70
Dessa forma, o endereço 192.168.20.112 é igual a C0A8:1470.
Uma vez configurados os dispositivos nas redes, os nodos devem possuir algum mecanismo que permita a passagem e o roteamento das mensagens, sendo possível ocorrer:
Dessa forma, com exceção do nodo IPv4/IPv6, as demais redes necessitam utilizar alguma técnica para garantir a coexistência e a interoperabilidade entre as duas versões dos protocolos e, consequentemente, o funcionamento correto dos serviços de rede.
Esta foi a primeira técnica adotada para interoperabilidade entre os protocolos IPv4/IPv6. O mecanismo, definido na RFC 3056, permite que redes IPv6 isoladas consigam se comunicar “roteador a roteador” por túnel automático:
Determinado pela RFC 2983, fornece orientações técnicas para permitir a utilização de uma infraestrutura IPv4 para encaminhar pacotes IPv6. São estas as possibilidades:
Este mecanismo foi definido na RFC 3035: o pacote IPv6 é encapsulado dentro do pacote IPv4, permitindo o roteamento através do túnel. Essa técnica normalmente é utilizada em sites IPv4/IPv6 ou em computadores que estejam em uma rede IPv4 e necessitem de interoperabilidade em seus acessos.
Esta técnica foi definida em duas RFCs, sendo elas a 5214 e 4213. Com ela é possível utilizar um endereço atribuído pelo DHCPv4 aos dispositivos, possibilitando que o nodo ISATAP determine a entrada e a saída do túnel IPv6.
Caro aluno, com esses conhecimentos é possível projetar redes que tenham suporte às duas versões do protocolo IP, sendo, por isso, uma infraestrutura preparada para atender às novas tecnologias disponíveis nas redes de computadores.
COMMER, D. E. Computer and networks internet with internet applications. São Paulo: Artmed, 2007.
FILIPPETTI, M. A. CCNA 4.1: Guia completo de estudos. Florianópolis: Visual Books, 2008. Pág. 54, 57, 147 e 153.
FOROUZAN, A. Comunicação de dados e redes de computadores. Porto Alegre: Bookman, 2006.
HAGEN, S. IPv6 Essentials. California: O’Reilly Media, 2002.
KUROSE, J. F. Redes de computadores e a internet: uma abordagem top-down. 3. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2006.
TANENBAUM, A. S. Redes de computadores. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.