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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

Qual a diferença entre o senso comum e o conhecimento científico?

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Fonte: Shutterstock.

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Para resolver o problema, é necessário entender o contexto histórico e filosófico por trás da origem de cada tipo de conhecimento, destacando os aspectos fundamentais que levaram à sua aceitação ou rejeição, fazendo analogias ou experimentos mentais (ou seja, imaginando circunstâncias nas quais certos tipos de conhecimentos poderiam ser aplicados, levando em consideração seus possíveis impactos na esfera da vida cotidiana) para reforçar a aprendizagem.

Um caminho para levar à resolução da situação-problema consiste na utilização da analogia do conhecimento científico com a atividade política, entendendo suas principais diferenças, mas destacando seus aspectos de interdependência. Por exemplo, embora a ciência dependa da política para uma série de condições, sobretudo no direcionamento de recursos para suas atividades, ela não é decidida de modo semelhante, de modo que a ciência não advoga pela democracia para chegar a um consenso, mas opera com base nos estudos e na qualidade da evidência resultante da investigação da realidade, confrontando muitas vezes uma visão dominante dentro da ciência, ou mesmo crenças políticas e religiosas individuais dos próprios cientistas, até a aceitação plena de teorias mais bem confirmadas, como ocorreu historicamente no processo de aceitação da teoria da evolução de Charles Darwin e sua implicação filosófica e política no contraste com o criacionismo bíblico, e na emergência da mecânica quântica, da qual alguns físicos, como Albert Einstein, resistiram-se a aceitar a natureza indeterminística da realidade.

Isso significa que muitas vezes seremos confrontados com visões que entram em desacordo com nossas preferências políticas, ideologias e crenças religiosas, mas isso não é um sinal de que devemos abrir mão do conhecimento científico. Na verdade, devemos trabalhar criticamente para absorvê-lo da melhor forma possível, especialmente para ajustar nossas crenças e visões de mundo à realidade. Pense, por exemplo, no caso das Testemunhas de Jeová e o embate notório em questões de ordem filosófica, sobretudo ética, e de saúde pública, que norteiam as ciências da saúde, no que se refere à rejeição de práticas e cuidados médicos relacionados ao uso da técnica de transfusão de sangue por seus seguidores. A rejeição do conhecimento científico levaria essas pessoas a permanecerem em sofrimento, a adoecerem progressivamente, simplesmente porque não conseguiram conciliar suas crenças e visões de mundo com o conhecimento científico.

O conhecimento vulgar também está enraizado em diversas concepções equivocadas do mundo, principalmente nas que trazem algum dano não apenas à humanidade, mas à natureza e aos animais. Por exemplo, a crença social compartilhada de que gatos pretos trazem azar, o que instiga o comportamento de maus-tratos contra animais, simplesmente porque a população não teve acesso ao conhecimento científico para entender a origem e a consequência dos mitos ao longo da história. Apenas o conhecimento científico pode elucidar essas questões, mostrar seus impactos no mundo real e avaliar o quão realistas são as crenças culturais ou religiosas mais bem difundidas. Em outras palavras, o conhecimento científico enriquece a cultura e alimenta a sociedade, contribuindo para que o senso comum se afaste cada vez de concepções equivocadas do mundo.

Um elemento-chave que contribui para a absorção do conhecimento científico pelo senso comum é entender que a formulação desse tipo de conhecimento que se dá através da construção das teorias científicas não surge espontaneamente do nada, nem de forma isolada com a pura observação de um fenômeno, mas se baseando em um problema e um fundo de conhecimento anterior. Contrastar a ciência e a pseudociência também ajuda a entender os aspectos que influenciam os grupos humanos. Evidenciar o princípio de abertura às novas ideias que o conhecimento científico proporciona e sua característica de testar ideias que não nos parecem razoáveis à primeira observação, como quando estamos pensando em comprar um carro usado e fazemos perguntas sobre a condição atual do automóvel, contribui para ajustar nossa visão de mundo a uma posição mais crítica e realista. Mais ainda, a consequência fundamental do senso comum absorver a ciência é, a curto prazo, a formação de melhores tomadores de decisões.

Avançando na prática

A ciência e a saúde mental

Uma pessoa cientificamente orientada, responsável pela análise da gestão da equipe de uma empresa, poderia identificar que a saúde e a qualidade de vida no trabalho (QvT) estão prejudicadas no setor em que trabalha, o que refletiria diretamente na queda dos índices de rendimento e produtividade da equipe. Como o conhecimento científico poderia auxiliar na resolução desse problema?

A própria pessoa com competências científicas, sobretudo em psicometria aplicada às organizações, poderia pôr em prática seu conhecimento para verificar a possível solução do problema, ou mesmo indicar a contratação de um consultor científico mais especializado. Em um exemplo específico, pode ser que um colega ou chefe seja responsável por boa parte dessa queda da QvT. Então, o consultor poderia desenvolver estratégias eficazes, baseadas no conhecimento científico, para aumentar o nível da QvT.

Bons estudos!

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