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Qual é sua pergunta e como respondê-la?

Amanda Soares de Melo

Fonte: Shutterstock.

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Convite ao estudo

Caro estudante,

Você já deve ter feito perguntas como “Por quê?” e “Como?” muitas vezes na vida. Essa é uma facilidade especialmente das crianças. Nós nascemos curiosos para saber a origem das coisas e a causas dos fenômenos que observamos. A curiosidade é uma das características elementares do ser humano.

O ser humano encontrou muitas formas de sanar suas dúvidas. Uma dessas formas, considerada a mais confiável, é o método científico. Ao longo das tentativas da humanidade de desenvolver um conhecimento seguro, foram desenvolvidas regras e procedimentos básicos que colocavam o ser humano mais próximo do conhecimento verdadeiro. Tais regras formam o método científico, que tem como etapa inicial a elaboração de um problema ou uma questão a ser investigada pelo pesquisador.

Na pesquisa científica, as perguntas ganham uma forma específica, seguindo certas regras e princípios, com a finalidade de tornar possível a condução de uma pesquisa com metodologia e rigor científico. Por essa razão, as perguntas científicas geralmente são menos vagas e mais claras dos que as que fazemos no nosso dia. 

Fazer perguntas em ciência é uma prática constante que não termina com a elaboração do projeto de pesquisa. Na verdade, a todo o momento da pesquisa, o cientista pode se sentir motivado a fazer perguntas, especialmente quando suas hipóteses não são corroboradas pela experiência, isso deve fazer o cientista se perguntar como e por quê a experiência é diferente do que se pensava. Dessa forma, fazer ciência implica em saber fazer as perguntas da maneira correta.

Convido-lhe a exercitar a sua curiosidade a partir da abordagem da ciência que envolve, entre outras coisas, investigar as causas, elaborar hipóteses, resolver problemas, criar soluções. 

Caro estudante,

Você já deve ter visto como a ciência e a tecnologia estão presentes em nossa vida cotidiana em diversos segmentos. Por trás de toda construção desses artefatos ou conhecimentos estão as perguntas, elas são muito importantes porque configuram a motivação do cientista para iniciar uma investigação. Toda pesquisa deve conter um problema a ser tratado ou uma pergunta como fio condutor. Tais problemas ou perguntas possuem fontes diversas, que podem surgir a partir de conversa com familiares, de uma reflexão individual, de uma conversa com colegas de faculdade ou trabalho. Mas há uma série de adaptações a serem feitas para que essa curiosidade inicial se torne uma pergunta científica que possibilite o desenvolvimento de uma pesquisa.

No desenvolvimento da pesquisa, há a formulação inicial do problema, a elaboração do projeto de pesquisa (que consiste em um planejamento rigoroso de cada etapa da pesquisa), a criação de um modelo de análise (as hipóteses a serem testadas), que é a forma do pesquisador quantitativo de testar a resposta que acha mais plausível para sua pergunta, a coleta e análise de dados e a comunicação dos resultados.

Saber conduzir uma boa pesquisa é essencial tanto a produção de conhecimento básico, quanto para a produção de conhecimento aplicado, financiados por empresas ou governos.

O conhecimento dessas etapas e desses procedimentos que envolvem todo o método científico não só possibilitará o desenvolvimento de uma boa pesquisa, mas também exercitará o seu pensamento crítico. A partir do conhecimento de como uma pesquisa deve ser conduzida, você se tornará mais capaz de julgar quando uma pesquisa é rigorosa ou não com seus resultados. Por sua vez, ficará mais difícil de acreditar em notícias sensacionalistas, pseudociências e fórmulas mágicas de resolução de problemas que não são verificadas ou que ainda não foram replicadas por uma comissão independente.

Imagine que você trabalha em uma empresa química em que o departamento de marketing quer verificar o efeito da propaganda na venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos anteriores desse produto, a empresa começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o faturamento desse produto no mês seguinte, fevereiro, é significativamente maior.

O departamento de marketing imediatamente comemora os resultados e supõe que a propaganda provocou um efeito positivo nas vendas do produto. Para comprovar essa hipótese, você é convocado enquanto pesquisador a realizar o teste da hipótese. Você elabora os seguintes enunciados:

Observação 1: As vendas do álcool em gel aumentaram no mês de fevereiro.

Hipótese básica: Elas aumentaram em decorrência do investimento em propaganda pela empresa.

Hipótese alternativa: Há algum outro fator externo, como preocupação com a saúde, que elevou o faturamento do produto.

Quais seriam os possíveis procedimentos a serem realizados a fim de confirmar ou refutar as hipóteses?

“A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimento. É uma maneira de pensar.” 

Carl Sagan

conceito-chave

Como fazer pesquisa científica: elaborando perguntas

Um dos primeiros passos ao desenvolver uma pesquisa científica passa por elaborar a pergunta de pesquisa, isso porque, ao desenvolver uma pesquisa, o pesquisador tem em si alguma inquietação, dúvida ou problema que almeja sanar. A pergunta da pesquisa é justamente essa incerteza que o pesquisador possui sobre determinado assunto e que o encoraja a desenvolver uma investigação, mas, se engana quem pensa que o produto final de toda investigação é a solução dessa pergunta. Na verdade, mesmo quando é possível produzir respostas satisfatórias a uma dada pergunta (e nem sempre é possível), outras questões surgem decorrentes da investigação, além da existência própria daquelas que tangenciam a pesquisa e sequer foram tratadas.

Há ainda as questões-problemas que surgem a partir de um avanço na ciência. As novas tecnologias e os novos instrumentos utilizados pela ciência geraram uma série de perguntas sobre questões já conhecidas que originaram novos paradigmas de pesquisa. Essa capacidade de gerar novas perguntas é uma marca do pensamento científico. Dessa maneira, não faltam incertezas a serem trabalhadas em projetos de pesquisa. O desafio que se coloca ao pesquisador é conseguir elaborar uma questão que possa ser transformada em um “plano de estudo factível e válido” (HULLEY, 2008, p. 36).

São muitas as origens dos problemas de pesquisa. Um pesquisador mais experiente geralmente toma como questão de pesquisa os problemas encontrados em seus estudos anteriores. Um pesquisador iniciante pode e deve revisar a literatura sobre determinado tema, a fim de encontrar questões abertas. Ele deve procurar ter um certo domínio sobre a literatura do campo de estudo que almeja começar uma investigação. Os livros, as revisões sistemáticas e os eventos de comunicação de pesquisa são bons pontos de partida tanto para quem sabe ou não se sabe qual questão estudar. Os eventos de comunicação científica são grandes oportunidades de conhecimento para o pesquisador iniciante porque ele terá contato com pesquisas mais recentes da sua área, poderá conversar com pesquisadores experientes que já passaram pela fase que ele está, poderá sanar dúvidas sobre as referências bibliográficas mais relevantes, além de formar parcerias de pesquisa. Não se esqueça: a ciência é uma construção coletiva e não individual!

Para elaborar um projeto de pesquisa, aconselha-se que o pesquisador procure um orientador que pode ser tanto um professor quanto um profissional especialista na área. Ele ou ela saberá avaliar se, à luz do campo estudado, a questão elaborada pelo pesquisador é adequada visando os métodos e as ferramentas da área disponíveis, isso porque algumas questões são interdisciplinares ou muito abrangentes e precisam ser delimitadas para garantir a boa condução do estudo. Há também pesquisas que contam com mais de um mentor. De maneira geral, uma boa pergunta de pesquisa tem como característica ser: factível, interessante, nova, ética e relevante (FINER).

Factível: diversos estudos não alcançam seus objetivos porque não conseguem delimitar o tamanho da sua amostra. É preciso planejar o número de pessoas participantes que serão suficientes para a coleta de dados e isso implica em uma análise de adequação de estratégia, tempo e critérios de inclusão ou exclusão de participantes. Além disso, o pesquisador deverá ter acesso às técnicas que precisa para o desenvolvimento da pesquisa, isso inclui equipamentos e habilidades como: fazer a delimitação do estudo, recrutar os participantes quando for o caso, conhecer os métodos de coleta e análise de dados e variáveis, etc. Também há que se ver quanto tempo o estudo irá durar e quanto irá custar, pois dependendo da pesquisa, os custos são altos. O pesquisador deve ter o planejamento de tempo por etapa e de insumos antes de iniciar a pesquisa, incluindo imprevistos. Uma situação que pode acontecer sem o planejamento adequado é o encerramento da pesquisa ainda na fase de desenvolvimento por falta de recursos. Nem sempre, é claro, isso é uma responsabilidade dos pesquisadores. As agências que financiam pesquisas com bolsas e recursos para o desenvolvimento dos testes são, em sua maioria, financiadas pelo governo. Um corte significativo de gastos poderá comprometer muitas pesquisas em andamento. Por fim, o pesquisador deve ter um escopo bem definido, caso contrário poderá se perder tentando responder mais questões do que lhe seriam pertinentes. Mesmo que problemas secundários sejam interessantes, é importante focar em uma questão específica a fim de conseguir se dedicar a ela e entregar resultados relevantes. Já dizia o ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.

Interessante: a questão precisa ser interessante para a ciência, porque não basta que ela seja interessante apenas para o pesquisador que a faz. Para conseguir aporte financeiro, muitas vezes, é preciso que outros pesquisadores da área reconheçam a pertinência da questão. Os especialistas e orientadores são essenciais nesse momento pois poderão dar o feedback necessário para saber se o projeto de pesquisa é pertinente à luz dos seus objetivos.

Nova: Nem sempre é preciso inovar em ciência, mas com uma questão bem delimitada, é possível e desejável a produção de novas informações a partir da pesquisa. Além disso, um avaliador do projeto de pesquisa pode achar que um estudo que não produz nada novo não vale os recursos reivindicados pelo pesquisador. A questão não precisa ser completamente original, mas novas informações sobre o assunto constituem um resultado esperado de boas pesquisas.

Ética: a pergunta de pesquisa deve ser ética, de modo que não cause risco de vida para os participantes, nem uma completa invasão de suas privacidades. Geralmente, os projetos de pesquisa que envolvem testes em humanos ou animais não humanos passam por uma comissão de ética para serem aprovados e as pesquisas devem seguir suas normatizações com extremo rigor. Uma pesquisa que incorra em infrações éticas também não consegue produzir resultados relevantes em ciência.

Relevante: A relevância tem um papel central na busca por uma boa pergunta de pesquisa. Uma forma de pensar a relevância da pergunta é imaginar as conclusões que a pesquisa poderá chegar e pensar quais contribuições e avanços essa conclusão pode trazer à sociedade; vale aqui também discutir com os orientadores e especialistas da área a relevância da pergunta, bem como do projeto de pesquisa como um todo. 

Desenvolver uma boa pergunta de pesquisa, embora pareça uma tarefa individual, é, antes, uma elaboração coletiva que envolve a participação de especialistas, professores, amigos, colaboradores e certo domínio da literatura. São alguns exemplos de perguntas de pesquisa: A redução da gordura alimentar pode reduzir a câncer de mama? Qual a origem dos índios americanos? Qual a composição da atmosfera de Marte? Qual a relação entre subdesenvolvimento e dependência econômica? “A criatividade, a persistência e a capacidade de julgamento são qualidades necessárias a serem exercitadas nessa tarefa” (HULLEY, 2008, p. 43).

Assimile
  1. A pergunta de pesquisa é o ponto de partida de todos os estudos científicos. Ela expressa a dúvida, inquietação e incerteza do pesquisador frente a uma parte do campo de estudo de uma disciplina.
  2. Para elaborar uma boa pergunta de pesquisa, é necessário ter um certo domínio da literatura da área de estudos. Também é recomendável que o pesquisador discuta sobre ela com os seus pares.
  3. Uma boa pergunta de pesquisa tem cinco características, sob o acrônimo FINER. Ela é: factível, interessante, nova, ética e relevante.

A construção de hipóteses

Uma vez elaborada a questão de pesquisa pode ser necessária a elaboração de hipóteses a serem testadas que darão uma resposta quanto ao problema colocado pelo pesquisador. As hipóteses são uma espécie de diretrizes da pesquisa; elas indicam o que os pesquisadores estão buscando ou o que eles estão tentando comprovar, sendo tentativas prévias de explicação do fenômeno analisado e devem ser formuladas de forma clara e concisa. A hipótese não deve ser confundida com pressuposto teórico, uma vez que no decorrer da pesquisa, ela pode ser descartada e avaliada. A hipótese é sempre provisória e provável.

Nem todas as pesquisas formulam hipóteses. A formulação de hipóteses é dada apenas em estudos correlacionais ou explicativos, isto é, que preveem um dado acerca do fenômeno analisado. Em geral, pesquisas apenas exploratórias não formulam hipóteses. As pesquisas que formulam hipóteses se utilizam do método hipotético-dedutivo que consiste na construção de conjecturas, isto é, premissas altamente prováveis baseadas em hipóteses que, se confirmadas, confirmam também sua veracidade. Um estudo que busque medir o índice de delitos de uma cidade pode ter como hipótese que o índice para determinado semestre será menor que o semestre anterior baseado em determinados fatores. Mais exemplos de hipóteses: quanto maior variedade houver no trabalho, maior será a motivação do trabalhador; o índice de câncer pulmonar é maior entre fumantes que não fumantes; a psicoterapia aumenta gradativamente a expressão do paciente sobre o futuro e diminui a expressão sobre os fatos passados.

Uma hipótese é diferente de uma afirmação, pois o pesquisador não tem plena certeza de sua comprovação. As fontes comuns para formulação de hipóteses são as teorias, generalizações empíricas sobre o problema de pesquisa e estudos revisados, mas elas também podem surgir em campos de estudo pouco explorados. Nesse caso, quanto menor o fundamento empírico da hipótese, maior o cuidado que o pesquisador deve ter quanto a sua aceitação ou rejeição. Um erro grave ao elaborar hipóteses se faz quando o pesquisador não revê a literatura do campo de estudo e formula hipóteses que já foram significativamente aceitas ou descartadas por outros estudos.

Lakatos e Marconi (1991) listaram onze características que uma boa hipótese deve conter:

Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), as hipóteses se dividem em duas categorias: hipóteses básicas e hipóteses secundárias. As hipóteses básicas são aquelas escolhidas pelo pesquisador e que respondem o problema diretamente, por sua vez, as hipóteses secundárias indicam respostas complementares ou outras possibilidades de resposta para o problema em questão. Além dessa classificação, há outras maneiras de classificar hipóteses mais gerais que variam de acordo com o objetivo da pesquisa como: hipóteses de pesquisa, hipóteses nulas, hipóteses alternativas e hipóteses estatísticas. As hipóteses de pesquisa podem ser entendidas como proposições acerca das possíveis relações entre duas ou mais variáveis. Comumente se representa essas variáveis como H11, H2, H3, etc. E há ainda uma classificação para os tipos de hipóteses de pesquisa, sendo:

Além das hipóteses de pesquisa, temos as hipóteses nulas. Elas são os opostos das hipóteses de pesquisa, pois as refutam. Retomando os exemplos anteriores, uma hipótese nula seria “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x varia entre 800 e 1.000 reais”. Ou ainda, “não há relação entre autoestima e o medo de sucesso”.

Há ainda, as hipóteses alternativas e as hipóteses estatísticas. A primeira são as possibilidades de respostas alternativas ao problema de pesquisa. Assim, poderíamos dizer, como no exemplo anterior, que “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 1.200 e 1.500 reais”. As hipóteses estatísticas, por sua vez, são exclusivas das pesquisas quantitativas e representam as hipóteses (pesquisa, nula e alternativa) em símbolos estatísticos.

Reflita
  1. Além do valor das hipóteses para a obtenção de resultados, no que as hipóteses podem contribuir para a pesquisa científica?
  2. O que pode ser feito quando a hipótese básica é rejeitada?
  3. Qual relação entre a pergunta de pesquisa e a elaboração da hipótese?

A condução da pesquisa

Para que a pesquisa científica seja conduzida da forma correta, é necessário que o pesquisador observe uma série de regras e princípios. De acordo com Academia Brasileira de Ciências (ABC, 2013), os princípios gerais que todo pesquisador deve seguir são: honestidade na apresentação e descrição dos procedimentos da pesquisa; confiabilidade na execução e comunicação da pesquisa; objetividade na coleta e no tratamento de informações; imparcialidade na execução da pesquisa; cuidado na coleta, no armazenamento e no tratamento de dados; respeito pelos voluntários e animais que participarem de testagens; veracidade na atribuição dos créditos aos outros; e, por fim, responsabilidade com a formação e supervisão de novos cientistas.

Além disso, a ABC recomenda uma série de boas práticas que garantem a boa condução da pesquisa. Em resumo, no que concerne ao planejamento da pesquisa, o pesquisador deve observar:

  1. Os recursos e materiais necessários à execução do projeto.
  2. A averiguação da capacidade científica do pesquisador em dar procedimento à pesquisa.
  3. A documentação de dados e informações prévias relevantes para a pesquisa.
  4. Reconhecimento dos possíveis conflitos de interesse que possam atrapalhar a pesquisa.
  5. A análise sobre propriedade intelectual quando for pertinente à pesquisa.

No que concerne ao manuseio de dados, o pesquisador ou a equipe responsável deve:

  1. Registrar os dados coletos de forma fidedigna.
  2. Guardar os dados da melhor forma.
  3. Arquivar os dados da pesquisa por prazo razoável.
  4. Colocar os dados à disposição para que outros pesquisadores possam replicar o estudo.

No que concerne a execução do projeto, o pesquisador ou a equipe responsável devem:

  1. Conduzir a pesquisa visando a prevenção de falhas e desperdício de recursos.
  2. Tratar todos os objetos de pesquisa com respeito, incluindo artefatos culturais.
  3. Ter compromisso com a saúde dos participantes da pesquisa.
  4. Garantir a confiabilidade dos dados e resultados.
  5. Dar crédito aos financiadores dos seus projetos.

A integridade da pesquisa é um valor absoluto. Tais regras gerais valem para todo tipo de pesquisa, embora haja regras mais pertinentes a algumas pesquisas que outras. Isso porque há, ao menos, duas abordagens em pesquisa: as pesquisas qualitativas e as pesquisas quantitativas. As pesquisas quantitativas se debruçam sobre dados que podem ser quantificados, usualmente recorre à linguagem matemática, especialmente à estatística, a fim de mostrar as causas e relações de determinado fenômeno. A pesquisa qualitativa, por sua vez, não se preocupa com a representação matemática dos fenômenos e sim com a compreensão mais geral deles. Os seus objetos não são quantificáveis, centrando-se na compreensão e explicação de dinâmicas sociais.

De acordo com as características de cada projeto de pesquisa, são escolhidas diferentes formas de pesquisa, sendo que não há uma melhor que a outra, mas a que mais se adequa aos seus objetivos. É possível, inclusive, aliar a pesquisa qualitativa com a quantitativa.

As pesquisas diferem-se também quanto a sua natureza: a pesquisa básica enfoca em construir conhecimentos novos sem aplicação prática prevista, enquanto a pesquisa aplicada visa os resultados práticos desse novo conhecimento, dessa maneira, como as pesquisas visam objetivos diferentes, é possível classificá-las de maneira mais específica. De maneira geral, as pesquisas exploratórias têm como objetivo tornar o problema mais explícito ou elaborar hipóteses, isso envolve levantamento bibliográfico, entrevistas (pesquisa semiestruturada) e análise de exemplos do problema. A pesquisa descritiva visa descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade, sendo exemplos: estudos de caso, análise documental e pesquisa ex-post-facto. A pesquisa explicativa visa determinar os fatores responsáveis pela ocorrência de determinados fenômenos.

Os procedimentos de pesquisa também variam. As pesquisas experimentais seguem um planejamento extenso e rigoroso. Usualmente tais pesquisas definem o objeto, suas variáveis e a elaboração de instrumentos para a coleta de dados, podendo ser desenvolvidas em laboratório ou no campo. Já a pesquisa bibliográfica é feita a partir da obtenção de referências teóricas como livros e artigo científicos, com o objetivo de recolher neles informações que ajudem a solucionar o problema inicial. A pesquisa documental segue caminho semelhante, mas também pode recorrer a fontes mais diversificadas como cartas, filmes, fotografias, pinturas, jornais etc.

Há ainda pesquisas de campo, etnográficas, de levantamentos (censos) e estudos de caso. Cada pesquisa tem sua particularidade, mas em termos gerais, as pesquisas científicas seguem as seguintes etapas: reconhecimento e formulação do problema, exploração do problema na bibliografia ou coleta de dados exploratória, planejamento da pesquisa e elaboração da problemática, elaboração de um modelo de análise (hipóteses), coleta de dados, análise dos dados e comunicação dos resultados.

Aceitação e rejeição de hipóteses

Em algumas pesquisas, principalmente se correlacionais ou explicativas, se faz necessário a elaboração de hipóteses, a fim de que possa se obter informações que ajudam a responder o problema de pesquisa. Cada pesquisa é diferente, portanto, algumas podem ter mais de uma hipótese analisada, principalmente quando o problema de pesquisa é complexo. Uma etapa central da pesquisa é avaliar se a hipótese foi aceita ou rejeitada no confronto com os dados empíricos. À rigor, um estudo não é capaz de aceitar ou rejeitar uma hipótese de maneira definitiva, o estudo apenas indica evidências a favor ou contra. Lembre-se que na ciência não há certezas absolutas ou indiscutíveis.

Há vários métodos para testar as hipóteses. Um deles é o Método Hipotético-Dedutivo, elaborado pelo filósofo da ciência Karl Popper na obra Conjecturas e Refutações: o desenvolvimento do conhecimento científico (2003). Segundo Popper, quando os conhecimentos acerca de determinado tema são insuficientes, surgem os problemas. Visando explicar o problema, as hipóteses são formuladas. São elas que ditam as consequências que terão de ser testadas ou falseadas. A partir dessa etapa, procura-se evidências empíricas que contradizem a hipótese. Quando não se consegue derrubá-la, então a hipótese é corroborada. Assim temos o esquema: PROBLEMA – HIPÓTESE – PREVISÃO – TENTATIVA DE FALSEAR – CORROBORAÇÃO.

Há também o método hipotético-indutivo quando se constrói as hipóteses a partir da observação da experiência. Quando se tem alguma informação que dá à hipótese um certo nível de probabilidade, é mais comum o uso do método hipotético-dedutivo. Todavia, na prática, os dois métodos se articulam, pois os modelos elaborados na ciência geralmente atendem tanto um quanto o outro.

Os resultados encontrados na tentativa de falsear a hipótese devem ser comparados com os resultados esperados para que se possa tirar conclusões. Se houver divergência entre eles, é necessário fazer uma análise que contemple saber: qual a causa dessa divergência, no que a experiência é diferente do que se presumia na hipótese e, a partir de uma nova análise de dados disponíveis, agora é possível elaborar novas hipóteses e examinar em que medida elas respondem melhor o problema colocado. Nem sempre as hipóteses são aceitas nas pesquisas, mas isso não significa que a pesquisa não tenha utilidade. O simples fato de eliminar uma das hipóteses, ainda que provisoriamente, faz com que os cientistas fiquem mais próximos da resposta do problema de suas pesquisas.

Exemplificando 

Veja o exemplo prático de formulação hipótese em uma pesquisa sobre as cobras corais.

Observação 1: As cobras corais são coloridas.

Pergunta: Por que essa espécie tem esse tipo de coloração?

Hipótese básica: As cores fortes servem para afastar possíveis predadores.

Hipótese secundária ou alternativa: Na natureza, as cores fortes servem de camuflagem.

Previsão: se colocarmos cobras de borracha uma com cores e uma marrom em fundos brancos com a presença de pássaros, os pássaros tentaram atacar a de borracha, em vez da colorida (H1), ou atacaram as duas igualmente (H2).

Coleta de dados: Nos testes efetuados, os pássaros atacaram significativamente mais as cobras marrons.

Interpretação dos resultados: A hipótese básica é mais provável e foi corroborada.

A elaboração de boas perguntas, a construção de hipóteses significativas e a testagem delas de forma adequada são fundamentais em uma pesquisa quantitativa. Além disso, o pesquisador deve estar sempre atento aos princípios e valores éticos tais como honestidade, respeito, imparcialidade, responsabilidade, entre outros, a fim de garantir uma condução adequada da pesquisa. Uma boa pesquisa, mesmo sem a corroboração de hipótese, colabora com o avanço da ciência.

Faça a valer a pena

Questão 1

A pesquisa científica exige uma série de regras e boas condutas para garantir a obtenção de bons resultados. Sem o cumprimento dessas regras e práticas, teríamos uma menor confiabilidade dos resultados científicos, um atraso no avanço da ciência e, por consequência, um desperdício de recursos.

Segundo a Academia Brasileira de Ciências, qual dos princípios a seguir são esperados na condução de uma pesquisa científica?

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Um dos princípios a serem observados na condução de uma pesquisa, de acordo com a Academia Brasileira de Ciências, é a Responsabilidade. A responsabilidade refere-se à supervisão e formação responsável de novos pesquisadores pelos docentes. 

Tente novamente...

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Questão 2

A pesquisa começa por uma pergunta. Essa pergunta pode surgir a partir de uma curiosidade, dúvida, incerteza ou problema que o pesquisador identifica em uma determinada área de estudo. Ela expressa a motivação do pesquisador para fazer uma investigação. Sem a capacidade humana de fazer perguntas, o surgimento das ciências ficaria comprometido.

Qual acrônimo expressa as características que uma boa pergunta de pesquisa deve conter?

Tente novamente...

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Tente novamente...

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Correto!

Uma boa pergunta de pesquisa deve ter certas características, conhecidas pelo acrônimo FINER. São elas: factível, interessante, nova, ética e relevante.

Questão 3

Depois da elaboração e exploração do problema de pesquisa, os pesquisadores desenvolvem as hipóteses explicativas do fenômeno estudado. As hipóteses, quando elaboradas, devem seguir certas características para garantir que sejam compatíveis com o método científico.

Segundo Lakatos e Marconi (1991), quais são as características que uma hipótese de pesquisa deve possuir?

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Para Lakatos e Marconi (1991), são onze as características que uma boa hipótese de pesquisa, são elas: Consistência Lógica, Simplicidade, Relevância, Apoio Teórico, Especificidade, Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Fertilidade e Originalidade.

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Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Referências

ABC. Rigor e integridade na condução da pesquisa científica. 2013.

HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica. 4 ed. Artmed Editora, 2015.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

POPPER, K.; BETTENCOURT, B.; ESPADA, J. C. Conjecturas e refutações: o desenvolvimento do conhecimento científico. 2003.

Bons estudos!

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