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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

O CORPO

Diana Ribeiro Tatit
Maria Cecília Cerminaro Derisso

Planejamento de práticas corporais

Um dos motivos para se planejar uma atividade prática corporal é refletirmos sobre os diferentes corpos.

Fonte: Shutterstock.

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Sem medo de errar

Compreendemos, a partir dos conceitos e conteúdos abordados nesta seção, que a criança deve ser estimulada, desde a primeiríssima infância a estabelecer uma relação de autoconhecimento com seu corpo. Este se constitui como primeiro brinquedo na infância, sendo ele o meio pelo qual esse ser em desenvolvimento se relaciona com o mundo e com os sujeitos ao seu redor. A criança brinca com o corpo e, por meio dele, conhece, experimenta e passa a compreender o mundo à sua volta.

A criança brinca com o corpo quando inicia seus primeiros rolamentos, por volta dos seis meses; com cerca de um ano, quando arrisca os primeiros passos; prossegue nesse caminho de descobertas quando ensaia os novos pulos, por volta dos dois anos; e quando se encanta pelos saltos, por volta dos três anos. Isso posto, compreendemos a necessidade de estimular nas crianças essa brincadeira com seus corpos, permitindo-lhes conhecer suas potencialidades, bem como definir seus limites com relação àquilo que é seguro ou não.

Diante da situação exposta, a prática pedagógica proposta por você, enquanto professor, é plausível e justificável, já que busca incentivar a exploração as potencialidades das crianças e afastar-se de uma prática de repressão e controle. A realidade em muitas escolas de educação infantil, pautadas em pensamentos que associam esse livre brincar à indisciplina ou falta de controle, leva os profissionais a limitar os movimentos das crianças sob, entre outros pretextos, os perigos que correm ao explorar os espaços a partir de seus corpos. 

A esse respeito, a Base Nacional Comum Curricular informa:

As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo. 

(BRASIL, 2017, p. 41)

Assim, a situação proposta por você é, deste modo e em consonância com a BNCC, repleta de ações corporais fundamentais que permitem à criança conhecer seu corpo, explorar todas as suas possibilidades e limites, visto que isso é aspecto fundamental para colocar-se no mundo.

Avançando na prática

Por trás da prática

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular:

Cada prática corporal propicia ao sujeito o acesso a uma dimensão de conhecimentos e de experiências aos quais ele não teria de outro modo. A vivência da prática é uma forma de gerar um tipo de conhecimento muito particular e insubstituível e, para que ela seja significativa, é preciso problematizar, desnaturalizar e evidenciar a multiplicidade de sentidos e significados que os grupos sociais conferem às diferentes manifestações da cultura corporal de movimento. Logo, as práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura e produção. 

(BRASIL, 2017, p. 214)

Tendo por base o excerto acima, retirado da BNCC, imagine a professora de uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental na qual chega uma aluna nova que sofre de obesidade. As crianças da turma passam, então, a praticar bullying contra a menina. Diversas conversas são feitas com os alunos por parte da professora e também da gestão escolar. No entanto, os resultados não são suficientes e a menina fica cada dia mais isolada. Sabemos das consequências psicológicas dessa ação e, diante disso e da ineficácia das estratégias propostas através do diálogo, a professora da turma deve mobilizar seus conhecimentos acerca das práticas corporais com a finalidade de desenvolver uma prática pedagógica que seja efetiva junto ao grupo diante da situação.

Tendo por base o trecho citado, que é parte integrante do documento que compõe o componente curricular Educação Física da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), pode-se verificar como ele nos indica a compreensão de uma concepção de prática corporal para além do viés do exercício físico:

Há três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: movimento corporal como elemento essencial; organização interna (de maior ou menor grau), pautada por uma lógica específica; e produto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ ou o cuidado com o corpo e a saúde. (...) Cada prática corporal propicia ao sujeito o acesso a uma dimensão de conhecimentos e de experiências aos quais ele não teria de outro modo. A vivência da prática é uma forma de gerar um tipo de conhecimento muito particular e insubstituível e, para que ela seja significativa, é preciso problematizar, desnaturalizar e evidenciar a multiplicidade de sentidos e significados que os grupos sociais conferem às diferentes manifestações da cultura corporal de movimento. Logo, as práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura e produção. Esse modo de entender a Educação Física permite articulá-la à área de Linguagens, resguardadas as singularidades de cada um dos seus componentes, conforme reafirmado nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos (Resolução CNE/CEB nº 7/2010). 

(BRASIL, 2017, p. 213, grifo nosso)

Nesse contexto, a concepção de prática corporal, como texto, faz com que ela possa ser escrita e reescrita, lida e relida diversas vezes, considerando os aspectos inovadores e criativos dessas ações. A professora da turma, a fim de mobilizar os alunos no sentido da compreensão acerca dos diferentes corpos e do afastamento de padrões impostos, pode organizar atividades em que o corpo passa a ser, então, um instrumento de expressão, e a prática corporal, uma linguagem. Nesse sentido, os diferentes corpos podem, cada um dentro de seus limites e possibilidades, relacionar-se com outras linguagens e ter objetivos comuns, como a ampliação de repertório, o aprimoramento expressivo e a compreensão de seu âmbito sociocultural. A professora pode, assim, reafirmar a singularidade de cada um. Podemos citar como exemplo atividades desafiadoras tais quais circuitos – nos quais cada tipo de corpo é capaz de superar determinado obstáculo, mas não todos – ou atividades que explorem atuações, como práticas teatrais em que a exploração da expressividade permite a compreensão das singularidades.

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