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DESENVOLVIMENTO MOTOR

Diana Ribeiro Tatit
Maria Cecília Cerminaro Derisso

A brincadeira e o desenvolvimento motor

A brincadeira promove grande avanço no desenvolvimento motor e na aprendizagem infantil.

Fonte: Shutterstock.

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Convite ao estudo

  Caro aluno, seja bem-vindo a mais uma unidade de estudos sobre os significados do corpo e do movimento. Primeiramente, vamos estudar o desenvolvimento motor da criança em seus vários estágios, buscando compreender como cada etapa da vida apresenta um tipo de motricidade específica, para que nós, professores e orientadores, possamos proporcionar melhores condições de aprendizagem às crianças. Em seguida, avançaremos com as reflexões sobre a psicomotricidade infantil, ampliando o desenvolvimento motor como resultado da relação do indivíduo com a sociedade e sua expressão enquanto agente social. Por último, estudaremos como o movimento em relação com a sociedade resulta na mobilização de um grupo social para produzir sua identidade pela cultura e pela dança popular.

Para tanto, vamos começar esta unidade entendendo a importância do movimento e do corpo para qualquer indivíduo, pois o corpo é o meio pelo qual nos apresentamos no mundo e aprendemos sobre ele. Além disso, é por meio dele que temos a possibilidade de agir para transformar o nosso meio e nos relacionar com os outros indivíduos.

É com os gestos e movimentos que construímos nossa singularidade e nossa identidade dentro de um grupo social, por isso o estudo do corpo proporciona a compreensão dos significados dos gestos, ou seja, seus significados socioculturais dentro de diferentes dimensões, além do papel da escola no acesso do aluno à compreensão do mundo e de si mesmo como agente produtor e produzido pelo meio.

Pelo movimento é possível aprimorar e refinar as capacidades motoras das crianças, por meio de atividades que exploram os gestos rápidos e lentos, fortes e fracos, circulares ou lineares, dentre outros. Utilizando-se de práticas que intencionam o controle dos movimentos e ampliação da consciência corporal, a criança pode “progressivamente, utilizar o corpo como fonte de investigação criativa do mundo e de si mesma, de suas ideias e emoções, explorando as formas de expressão corporal presentes no seu social e em outros grupos” (ALMEIDA, 2016, p. 30).

O aprendizado do movimento e da dança, além de ampliar o repertório motor e a criatividade da criança, pode ser uma fonte de autoconhecimento que dá ferramentas para o indivíduo utilizar seu próprio corpo com maior inteligência e autonomia. A percepção do movimento enquanto fonte de prazer desperta na criança sensibilidade e condições para desenvolver mais empatia e sociabilidade. Conhecer as potencialidades do corpo fomenta relações melhores e mais responsáveis consigo, com o outro e com o ambiente.

PRATICAR PARA APRENDER

Você já viveu a seguinte situação curiosa – que pode acontecer em uma aula de dança ou em outra atividade física qualquer: você precisa realizar um determinado movimento e, mesmo que a mente compreenda o que deve ser feito, a sensação é de que o corpo não responde como deveria?

Isso é mais comum do que podemos imaginar e está relacionado ao histórico de repertório motor desenvolvido ao longo de toda a vida. Ou seja, apesar de o movimento ser voluntário e consciente, o repertório de gestos automatizados pelo cérebro é acionado para responder.

A capacidade de aprender um movimento ou expressão acompanha a pessoa ao longo de toda sua vida, ou seja, mesmo na fase adulta ou na velhice é possível adquirir novos repertórios motores. Para que o indivíduo possa aprender um novo gesto, ele vai buscar em todas a suas bases sensório-motoras aprendidas pelas suas experiências, para que esse repertório possa ajudá-lo a apreender o novo movimento.

Há uma relação muito estreita entre a capacidade de aprender uma nova informação, seja ela motora ou intelectual, e os repertórios de movimento preestabelecidos. Um indivíduo que ao longo da vida esteve exposto a um vasto leque motor provavelmente terá melhor capacidade de aprender novas informações.

Por isso, o papel da escola e do educador é fundamental para o desenvolvimento do repertório motor infantil, no que diz respeito à qualidade e quantidade.

A primeira infância é o período em que o ser humano apresenta o mais significativo avanço no que diz respeito à motricidade, e, ao final dessa fase de desenvolvimento, espera-se que a criança já tenha aprendido ações, reflexos e equilíbrio fundamentais para chegar até a vida adulta.

Nessa fase da vida, em que o corpo é o principal meio de comunicação com o mundo, de reconhecimento de si e da construção da individualidade e identidade da criança em seu meio social, é fundamental que o educador esteja preparado para promover o desenvolvimento integral do seu aluno, preparando-o e dando a base necessária para toda a sua vida.

Estudaremos, a seguir, a importância do brincar como ferramenta de estímulo à motricidade. Vamos refletir sobre quais elementos constituem a motricidade, além de entender qual é o desenvolvimento motor esperado para cada faixa etária, para que você possa orientar o planejamento de suas práticas. Por fim, vamos analisar as diretrizes e políticas estabelecidas para o trabalho com corpo, movimento e gestos na Educação Infantil.

O ambiente da creche pode ser extremamente heterogêneo, pois crianças de diversas faixas etárias e com habilidades motoras diversas convivem e se desenvolvem conjuntamente. Em pequenas creches de bairro, que têm cerca de 20 alunos entre zero e seis anos, o pedagogo sobrepõe uma série de funções, e sempre é complexo dar conta das necessidades individuais. Imagine-se como um dos educadores de uma equipe multidisciplinar que deve dirigir uma atividade para promover o desenvolvimento motor dos alunos dessa creche. Organize uma aula pautada nessa realidade escolar, com conteúdo dentro da disciplina de corpo, gestos e movimentos.

Para resolver essa situação-problema, reflita sobre qual é a importância do brincar para dar conta do amplo desenvolvimento de todos os alunos? Você proporia algum tipo de divisão em grupos? Se sim, com base em qual proposta conceitual você faria a separação? É possível desenvolver, de maneira diferente para cada grupo etário, a mesma proposta de aula? Se sim, como seria possível realizar um planejamento dessa aula?

Leve em consideração a centralidade do corpo para planejar sua aula e como o movimento tem uma fundação importante para cada fase do desenvolvimento motor. Mesmo que haja diferenças, como preparar uma aula com um único fio condutor, mas respeitando as singularidades dos desenvolvimentos?

Para refletir sobre a situação-problema aqui proposta, leve em consideração as discussões sobre desenvolvimento motor, bem como seus conhecimentos empíricos a respeito da realidade escolar, da desigualdade social e da diversidade de estruturas familiares.

Ser educador é impregnar de sentidos cada ato cotidiano. Vamos construir juntos muitos significados para os gestos!

CONCEITO-CHAVE

APRENDIZAGEM MOTORA

Mover-se é condição fundamental do ser humano, pois, em primeiro plano, os movimentos dão condições para que a pessoa cumpra suas necessidades básicas como comer, andar, respirar, chorar e outras. Tais gestos são memórias ancestrais que se manifestam para que seja possível sobreviver.

O indivíduo aprende a importância do movimento desde seu nascimento. Por exemplo, um bebê, ao mamar e repetir a ação de sucção diversas vezes, compreenderá que esse gesto é importante para sua sobrevivência. A essa variedade de movimentos Ivaldo Bertazzo (2010) chamou de gestos fundamentais.

Com o amadurecimento dos gestos fundamentais, o ser humano começa a desenvolver um repertório de movimentos mais amplo, abrindo um leque de possiblidades para outros tipos de ações. Nesse momento, o indivíduo passa a explorar o ambiente, ampliando sua percepção espacial, o que proporciona a capacidade de transformação ambiental para criar maiores e melhores condições de sobrevivência.

Reflita 

É possível afirmar que os movimentos e o os corpos não são somente condições de sobrevivência, mas são meios para viver. Nesse viver, as relações socais e humanas constroem signos para os gestos e para o corpo, que podem ser usados como ferramenta de comunicação e de aprendizado do mundo. O movimento produz identidade e torna o sujeito um ser social, e como tal utiliza-se do corpo como ferramenta de expressão de si mesmo, expandindo sua relação com o outro e com o ambiente.

O trabalho com o movimento e com o corpo, portanto, deve trazer para o centro a multiplicidade das manifestações do ato motor com seus aspectos físicos, psíquicos, culturais e sociais.

A BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DA PRIMEIRA INFÂNCIA

O brincar está relacionado com a capacidade de desenvolver a vida social e o intelecto. A brincadeira promove grande avanço no desenvolvimento motor e na aprendizagem infantil (VYGOTSKY, 1998) e leva a criança a níveis de desenvolvimento mais elevados e complexos.

Por isso, no caso da criança, a brincadeira não tem apenas caráter lúdico, ou seja, não se limita a ser uma diversão ou passatempo, mas, sobretudo, é um instrumento de desenvolvimento social e cognitivo. A criança utiliza o brincar como forma de manifestar sua intencionalidade e expressão, melhorando a comunicação com o outro e com o ambiente.

Por meio da brincadeira ela aprende a elaborar suas emoções, como raiva, angústia, agressividade e ansiedade.

Os jogos sensoriais, de exercício e as atividades físicas que são promovidas pelas brincadeiras auxiliam a criança a desenvolver os aspectos referentes à percepção, habilidades motoras, força e resistência e até as questões referentes à termorregulação e controle de peso.

CORDAZZO, 2008, p. 38.

Também pela brincadeira a criança desenvolve a linguagem e a imaginação, afinal, o faz de conta estimula a criatividade e leva a criança a construir conversas com seus personagens imaginários, o que faz com ela elabore seu vocabulário e aprenda a organizar ideias.

Figura 3.1 | Estímulo à criatividade
Fonte: Shutterstock.

Para crianças muito pequenas o brinquedo ainda não é uma ferramenta imaginativa, mas é um grande estímulo motor, pois desperta e proporciona a manipulação. Quando crescem um pouco mais, os estímulos externos vão sendo assimilados e os brinquedos passam a ser uma ferramenta de externalização da imaginação. Por causa da criatividade, conseguem abstrair o mundo objetivo e transformar uma tesoura em avião, por exemplo, ou uma toalha os transforma em heróis e heroínas.

Por outro lado, a observação da brincadeira por parte do professor permite que o profissional conheça melhor seu aluno e promova ações para melhorar o desenvolvimento do estudante. Mas atenção: o papel do professor é explicar e auxiliar, ele não deve dirigir o modo como a brincadeira vai acontecer, pois pode acabar tolhendo os processos de criatividade e as interações entre os alunos. Cordazzo (2008, p. 46) afirma que “a intervenção do professor não deve, de forma alguma, podar a imaginação criativa da criança, mas sim orientar para que a brincadeira espontânea apareça na situação de aprendizagem”.

O diagrama, a seguir, condensa os principais aspectos da brincadeira.

Figura 3.2 | Brincadeiras
Fonte: elaborada pela autora.

ATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO MOTOR

O desenvolvimento motor acompanha a pessoa ao longo de toda sua vida, mas na infância esse processo é mais evidente e acentuado. Durante essa fase da vida é comum delimitar quais são os desenvolvimentos específicos para cada idade, e é importante ressaltar que o desenvolvimento infantil também é condicionado por questões individuais e culturais, nas quais a criança está inserida (VYGOTSKY, 1998).

O desenvolvimento motor é o processo de mudanças no comportamento motor, implicando a maturação do sistema nervoso central, mas também a interação com o ambiente e com os estímulos oferecidos ao indivíduo durante o seu desenvolvimento. As transformações ocorrem de forma gradual e ordenada, sendo que uma alteração leva à outra. (REBELO et al., 2020, p. 76)

REBELO et al., 2020, p. 76.

É possível afirmar que o desenvolvimento da criança é condicionado por fatores físicos, sociais e cognitivos que se entrelaçam para proporcionar condições para o amadurecimento infantil. Condições de saúde, higiene e educação também são fatores fundamentais para trazer consequências positivas ou negativas ao desenvolvimento infantil.

O sistema motor tem um caráter cumulativo (CASTRO, 2008). Isso quer dizer que, quanto mais a criança estiver em contato com situações que ampliem seu repertório motor, maior será a bagagem que carregará por toda sua vida e, por conseguinte, haverá um desenvolvimento melhor e mais amplo.

De acordo com Cordazzo (2008, p. 33), “a cognição pode ser caracterizada como o processo intelectual pelo qual um indivíduo toma conhecimento do mundo”. Ela também auxilia a coletar e processar as informações aprendidas. A cognição, além de ser uma capacidade inerente ao ser humano, também é condicionada pelas atividades sociais e culturais nas quais o indivíduo está inserido. No caso de uma criança, portanto, a cognição será condicionada por conhecimentos e habilidades genéticas, bem como pelo contexto familiar e social.

FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR

As experiências motoras são muito importantes em cada fase da vida de qualquer indivíduo, em especial da criança, isso porque, com base em tais práticas, ela poderá perceber a si mesma, o outro e o ambiente que a cerca.

Pelo movimento as crianças pequenas se comunicam com o mundo, ou seja, com mímicas, contorções e choro os adultos que as cercam podem entender se sua demanda é fome, sono ou cólicas. “Assim, a primeira função do ato motor está ligada à expressão, permitindo que desejos, estados íntimos e necessidades se manifestem” (BRASIL, 1998, p. 18).

A capacidade e importância do movimento motor para a comunicação com o mundo não se limita ao bebê. Ao longo de toda a vida o ser humano usa o movimento para expressar sentimentos e emoções. Daí a importância do movimento para o indivíduo.

O estudo do corpo deve fazer parte do processo de aprendizagem da criança, e o professor tem papel fundamental nisso ao trabalhar as várias dimensões do movimento, trazendo as facetas motoras e expressivas do gesto, bem como entendendo as diversas fases motoras da criança para desenvolver caminhos de estimulação do aluno em cada etapa.

As habilidades motoras são divididas em:

É importante frisar que, mesmo que haja essa divisão, todos os grupos musculares – em maior ou menor grau – são responsáveis pelos movimentos, mas essa divisão pode orientar o professor ao conteúdo pragmático que deverá desenvolver com seus alunos.

[…] o Desenvolvimento Motor nos primeiros anos de vida caracteriza-se pela aquisição de um amplo repertório de habilidades motoras, que possibilita à criança um domínio completo do seu corpo em diferentes posturas, locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc…) e manipular objetos e instrumentos diversos (receber uma bola, arremessar uma pedra, chutar, escrever, etc…).

REBELO et al., 2020, p. 76.
Exemplificando 

O equilíbrio é um aspecto fundamental do desenvolvimento motor e será uma busca ao longo de toda a vida de um indivíduo que suas habilidades locomotoras e manipulativas sejam equilibradas.

DE 0 A 1 ANO

Diferentemente de outros seres da natureza, o ser humano não nasce com as capacidades motoras básicas desenvolvidas, por isso precisa da presença de um adulto para viabilizar seu desenvolvimento completo até chegar à independência e dominar o próprio corpo. Esse é um dos maiores desafios do início da vida.

O controle corporal de bebê é baixo, e gradualmente os movimentos descoordenados vão se estabelecendo de cima para baixo e do centro até as extremidades. O controle da cabeça é o primeiro a se manifestar, seguido do controle dos membros superiores para, por fim, ganhar o controle dos membros inferiores. “Essas conquistas antecedem e preparam o aprendizado da locomoção, o que amplia muito a possibilidade de ação independente” (BRASIL, 1998, p. 21).

Nessa idade, há grande interesse e investigação dos movimentos por parte do bebê, que repete diversas vezes o mesmo gesto para compreender os efeitos dessas ações sobre o mundo. O bebê está buscando entender quais os limites do seu próprio corpo e a sua ação sobre o ambiente, ou seja, sua capacidade de modificar o mundo exterior.

Sua maior conquista, nessa fase, é a capacidade de preensão e a locomoção. Com essas duas capacidades, a criança ganha capacidade de exploração do mundo e estabelece relação com cada elemento ou objeto no espaço.

O primeiro ano de vida é marcado por um acentuado desenvolvimento motor.

Figura 3.3 | Desenvolvimento motor – 0 a 1 ano
Fonte: adaptada de Shutterstock.

Neste período de 0 a 1 ano, podemos destacar que o recém-nascido tem o sistema olfativo e auditivo desenvolvidos, mas o sistema visual ainda não o permite focar. Mas, até o primeiro mês, o reflexo de pinça com o cerrar do pulso vai se estabelecendo e pode ser estimulado. Já no segundo mês ele tem a capacidade de agarrar um brinquedo. Somente com quatro meses ele conquista a capacidade de sustentar a cabeça, e no quinto mês já consegue se manter sentado sem sustentação. Com seis meses, o bebê pode manejar melhor objetos e transferi-los de uma mão à outra. No decimo mês a criança consegue se sentar sozinha e engatinhar, tentando caminhar ao agarrar-se nos objetos.

Assimile 

Ao final do primeiro ano de vida, a habilidade de andar e a capacidade de manipular objetos permitem a criança colocar brinquedos em uma caixa, manipular massinha e rabiscar.

DE 1 A 3 ANOS

Nessa fase a criança ganha controle do caminhar, e a possiblidade de explorar o ambiente com as mãos livres vai levar à iniciativa do próprio indivíduo em conhecer o mundo e ampliar seu repertório motor e cognitivo por meio também da manipulação. “Pela manipulação as crianças são capazes de explorar a natureza e o efeito dos objetos” (CASTRO, 2008, p. 31). Ela mexe, explora e pesquisa em todos os lugares.

Assimile

Essa fase é amplamente marcada pelo desenvolvimento dos movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos.

Há um significativo ganho das habilidades motoras da criança, pois aprendem habilidades motoras grossas como andar, correr e pular, além de habilidades motoras finas, como desenhar. “De certa forma, podemos dizer que quanto mais a criança explora, mais ela se desenvolve e quanto mais ela se desenvolve motoramente, maior sua capacidade exploratória” (CASTRO, 2008, p. 31).

Gestos simbólicos vão se estabelecendo por brincadeiras de faz de conta, marcando o momento de expressão do seu universo interno. Também ampliam a capacidade de abstração, e a cultura pelos gestos vai se estabelecendo ao mesmo tempo em que sua autoimagem vai sendo produzida. A criança começa a se compreender como um ser social e, portanto, institui sua identidade.

Esse período é muito rico em experimentações, e a cada dia a criança apresenta uma nova descoberta. Seu repertório vai se sofisticando, ao mesmo tempo em que as diferenças individuais vão se apresentando à medida que ela evolui. Porém, ela ainda apresenta dificuldades em dominar completamente as habilidades motoras grossa e fina.

DE 4 A 6 ANOS

Nessa faixa etária, as habilidades motoras apresentam grande amadurecimento e as ações corporais vão se consolidando para ampliar o repertório corporal das crianças. Existem dez ações corporais decodificadas por vários autores, e elas devem ser exploradas nas aulas de corpo e movimento: saltar, cair, expandir, contrair, transferir o peso, gesticular, girar, inclinar, deslocar, torcer.

Com essa idade a criança apresenta maior controle e coordenação rítmica, elemento que pode ser explorado pelo professor por meio de música e dança. 

Pesquise mais 

No primeiro capítulo do livro Ensinando dança para crianças, a doutora Theresa Cone busca entender o que é a dança para as crianças, seus valores e benefícios e como esse tema deve ser abordado. Ela também traz orientações de como projetar e executar um programa de aulas dentro da disciplina de dança. Para realizar a leitura, acesse a plataforma Minha Biblioteca e busque pelo título da obra.

CONE, T. P. Ensinando dança para crianças. 3. ed. Barueri: Manole, 2015.

É também nesse período que o aluno apresenta maior controle mecânico e coordenação, podendo realizar curtas sequências de movimentos coreográficos, bem como ter mais autonomia na criação e desenvolvimento dos seus próprios movimentos de dança.

Assimile 

O controle corporal aumenta e a criança já constrói a capacidade de manter-se em uma posição por mais tempo e controlar suas impulsões motoras, como percebemos nos bebês.

DESENVOLVIMENTO MOTOR E CORPO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

De acordo com a BNCC (2017), seis são os direitos de aprendizagem das crianças ao longo da primeira infância na escola: conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, os quais deverão ser desenvolvidas por meio de interações e brincadeiras. Na Educação Infantil o corpo da criança ganha centralidade, já que ele é o principal meio de liberdade, criatividade, emancipação e comunicação.

De maneira geral, a Educação Infantil, de acordo com a BNCC (2017), busca, pela disciplina de corpo, gestos e movimentos, promover autonomia das práticas rotineiras da criança como comer, vestir e se higienizar, como maneira de valorizar o próprio corpo e os cuidados com seu próprio bem-estar por meio da manutenção de sua saúde e de ambientes organizados e saudáveis.

Foco na BNCC 

De acordo com a BNCC, é função da escola cultivar o espírito lúdico para conquistar as relações entre os alunos, incentivar a exploração do espaço e vivenciar amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo. Para tanto, é importante explorar movimentos como rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se e outros.

Coordenar as atividades motoras também é um dos objetivos que os professores devem perseguir na abordagem sobre o corpo com as crianças, incentivando seu desenvolvimento motor de acordo com cada etapa e considerando a individualidade do aluno.

Por fim, é objetivo do professor conseguir controlar o corpo para utilizá-lo como instrumento de expressão e criatividade, entender o corpo, o movimento e o gesto como mecanismos de interação com o outro e com o meio, além de ser um meio de conhecer a si mesmo e desenvolver sua identidade.

Referências

ALMEIDA, F. S. Que dança é essa? Uma proposta para a educação infantil. São Paulo: Summus/Pearson, 2016.

BERTAZZO, I. Corpo Vivo: Reeducação do movimento. São Paulo: Edições SESC-SP, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Curricular Comum. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2VbXtGs. Acesso em: 20 mar. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2017.

CASTRO, M. B. A influência do contexto nas habilidades motoras fundamentais de pré-escolares e escolares. 2008. 107f. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento) – Escola Superior de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

CONE, T. P. Ensinando dança para crianças. 3. ed. Barueri: Manole, 2015.

CORDAZZO, S. T. D. Influência do brincar no desempenho motor, cognitivo e social de crianças em idade escolar no Brasil e em Portugal. 2008. 205f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2008.

REBELO, M. et al. Desarrollo motor del niño: relación entre habilidades motoras globales, habilidades motoras finas y edad. Cuadernos de Psicología del Deporte, v. 20, n. 1, 75-85, jan. 2020.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Bons estudos!

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