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Protocolos clínicos multiprofissionais

Emanuel Nunes

Fonte: Shutterstock.

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Praticar para aprender

Caro aluno, na seção anterior, aprofundamos a questão da padronização, bem como sua importância e seu impacto na qualidade e segurança do paciente. Nesta seção, caminharemos para outro aspecto do protocolo: o protocolo clínico. E por que isso é importante? Imagine o seguinte cenário: existem milhões de universidades no mundo, certo? Cada uma possui uma estrutura e um método de ensino específicos. Algumas têm enfoque prático, outras são mais teóricas e, ainda, existem aquelas que focam na carreira acadêmica. Seja qual for a sistemática de ensino, todos os profissionais se encontrarão no grande mar chamado de mercado de trabalho. Cada um veio por um rio diferente e todos desembocaram no mesmo lugar. Existem muitas coisas boas nessa diversidade, pois são realidades diversas, contudo, quando pensamos em realizar uma consulta clínica ou um atendimento, podem existir conflitos, porque existe uma diferença na abordagem do aprendizado, que é natural. No entanto, isso precisa ser refinado no mercado de trabalho, para melhorar a qualidade e a harmonia da equipe multiprofissional. Para tanto, aprenderemos sobre a importância do protocolo clínico, tanto para o paciente quanto para a instituição de saúde.

Os protocolos clínicos são ferramentas que permitem a padronização das condutas nas patologias ou condições do paciente/cliente. Eles apresentam benefícios inegáveis para os pacientes, profissionais de saúde e instituições de saúde.

Para contextualizar este cenário, você se colocará no papel de um gestor da qualidade em um serviço de saúde, que foi solicitado para ajudar a equipe multiprofissional de um setor de internação a implementar um protocolo clínico. Ao participar da reunião, você recebe os seguintes questionamentos: por onde podemos começar? Por qual condição ou doença devemos iniciar? Munido dessas questões, como você poderia respondê-las para a equipe?

Lembre-se de que aprender a trabalhar em equipe é essencial para o sucesso profissional.

conceito-chave

Fundamentos do protocolo clínico

Você consegue imaginar trabalhar em um local onde as condutas clínicas e o atendimento ao paciente/cliente não sejam padronizados, e que cada profissional faz uma intervenção diferente sem ter consonância com o colega de outra área da saúde? Essa é a realidade de muitos serviços de saúde no Brasil e no mundo. Muitos são os prejuízos dessas intervenções não padronizadas, por exemplo, o paciente/cliente não tem uma constância no tratamento, pois cada profissional muda a conduta de acordo com a sua vontade, o que é nocivo para quem está sendo atendido. Existem também outros aspectos, como aumento dos custos. Um exemplo é o caso da troca de antibióticos de um paciente em tratamento sem um fundamento. Essa medicação não usada está aberta e será desprezada, isso gera desperdício e, consequentemente, aumento dos custos hospitalares. Sendo assim, faz muito sentido que as condutas sejam padronizadas.

Perceba que padronizar não significa “engessar” e tirar a autonomia do profissional, pelo contrário, o protocolo clínico tem como premissa direcionar o profissional para uma conduta assertiva, mas não substitui o raciocínio clínico e a expertise profissional.

Como podemos diferenciar um protocolo clínico de um protocolo e de um Procedimento Operacional Padronizado (POP)? Primeiro, é preciso entender que todos eles buscam o mesmo objetivo: a padronização. A diferença está no aspecto dessa padronização, visto que cada documento tem um enfoque específico, mas que, ao fim, se encontram, pois todos eles ajudam na melhoria da qualidade e segurança do paciente. Vale ressaltar que o entendimento pode variar de acordo com a organização de saúde, por exemplo, pode ser que haja somente POP e protocolo, e não se utilize a denominação de protocolo clínico, mas aqui colocaremos alguns pontos de diferença, conforme você verá no Quadro 2.3 e na Figura 2.6.

Quadro 2.3 | Características dos documentos de padronização em saúde
Tipo de documento Objetivos
POP Visa à padronização de um procedimento, fluxo ou atividade.
Protocolo Visa à padronização de um procedimento mais complexo ou atendimento.
Protocolo clínico Visa à padronização da conduta clínica frente a uma doença ou condição.
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 2.6 | Relação entre POP, protocolo e protocolo clínico
Fonte: elaborada pelo autor.
Assimile

Dentro de qualquer serviço de saúde, existe minimamente um fluxo de atendimento, no qual o paciente/cliente precisa seguir durante um atendimento. Por exemplo, em um pronto-socorro, o paciente/cliente passa por uma classificação de risco pelo enfermeiro e, após, é avaliado pelo médico ou por outros membros da equipe multiprofissional. Sendo assim, não faz muito sentido ter um protocolo clínico somente com as condutas médicas, porque isso garante a padronização entre os médicos, mas e os demais profissionais? Para tanto, é necessário que as condutas multiprofissionais estejam no protocolo clínico, pois, desse modo, há uma padronização de todo o processo de atendimento, o que gera harmonização das condutas, melhor comunicação entre a equipe e, por conseguinte, qualidade.

Desenvolvimento e implantação de protocolos clínicos

O protocolo clínico tem como objetivo normatizar e padronizar a conduta clínica de uma doença ou condição. Neste documento, constam as ações para condução do tratamento, da reabilitação, enfim, do manejo da doença ou condição. A princípio era um documento médico, no qual havia somente as condutas médicas, porém isso tem evoluído, tanto que, agora, devem constar também as ações de todos os profissionais envolvidos no contexto assistencial, afinal não é só o médico que atende o paciente. A organização de saúde deve fornecer uma estrutura que viabilize o desenvolvimento, a distribuição, a implantação e o gerenciamento de protocolos clínicos.

O protocolo clínico tem como objetivos e princípios:

Não se pode implementar um protocolo sem que haja uma real necessidade. Aliás, um dos principais erros é a implementação de um protocolo que não condiz com a realidade do serviço de saúde e que, portanto, não se aplica e não tem o resultado esperado. Antes de iniciar o protocolo clínico, é necessário responder a algumas perguntas importantes, pois o planejamento é essencial para a assertividade do documento.

  1. Qual será a doença ou condição?
  2. Qual será a equipe multiprofissional responsável pelo protocolo?
  3. Em qual contexto (situação) será aplicado o protocolo?
  4. Como será a busca de evidências científicas para embasar o protocolo?
  5. Como será formalizado o protocolo?
  6. Como será validado?
  7. Como será revisado?
  8. Como será distribuído?
  9. Como será acompanhado e gerenciado?
Reflita

Imagine que a sua equipe empreendeu tempo e trabalho para desenvolver um protocolo clínico de atendimento ao paciente com lombalgia (dor na região lombar). Após alguns meses, você percebe que nenhum paciente foi admitido com o diagnóstico de lombalgia. É provável que os desenvolvedores do protocolo não consideraram o perfil de pacientes atendidos no serviço e, assim, o documento foi bem feito, mas não se aplica. Faz sentido ter um protocolo que não se aplica? Antes de fazer um protocolo, é necessário conhecer o perfil de atendimento do serviço. Qual será a importância disso neste contexto?

Quadro 2.4 | Elementos de um protocolo clínico
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Componentes Características
1.  Introdução Definir de forma objetiva a condição ou doença.
2.  Elegibilidade Quais pacientes serão incluídos/atendidos.
3.  Critérios de exclusão Critérios clínicos que excluam o paciente do protocolo.
4.  Marcadores Paramentos mensuráveis para avaliar o protocolo. Por exemplo, exames laboratoriais.
5.  Metas e indicadores de qualidade Critério pré-determinados para analisar a eficiência do protocolo, por exemplo, tempo de atendimento.
6.  Plano terapêutico Definir as etapas do atendimento de forma geral.
7.  Projeto terapêutico Descrever o planejamento diário da assistência.
8.  Conduta Passo a passo da equipe multiprofissional para atendimento.
9.  Medidas profiláticas Medidas específicas, por exemplo, paciente deve ficar em repouso antes do procedimento.
10.  Consentimento informado Quando aplicável, deve conter o Termo de Consentimento.
11.  Medidas de orientação ao paciente Orientação multiprofissional para alta do paciente, para que ele possa realizar cuidados em domicílio.
12.  Algoritmo/Fluxograma Representação sequencial do protocolo.
13.  Referências bibliográficas Bibliografia, guidelines e diretrizes utilizadas na elaboração do protocolo.
14.  Distribuição Quais setores utilizaram o protocolo?
15.  Responsáveis pela elaboração, validação e aprovação. Deve conter nome completo, função, conselho profissional e data.
Fonte: elaborado pelo autor.

Impactos do protocolo clínico para o paciente e a instituição

Os protocolos clínicos são as ferramentas mais importantes para gestão da qualidade e segurança do paciente, uma vez que você padroniza a assistência ao paciente/cliente e assegura um determinado padrão de qualidade, que pode ser mensurado e melhorado continuamente. Os benefícios do protocolo clínico podem ser classificados considerando o paciente/cliente, o profissional de saúde e a organização de saúde.

Exemplificando

O protocolo clínico é um guia completo de atenção a uma determinada condição ou doença, que fornece ao profissional de saúde o caminho a seguir para conduzir o processo de tratamento ou a reabilitação do paciente/cliente. Vale ressaltar que não se deve confundir o protocolo com a massificação das condutas. Por exemplo, apesar de as doenças terem o mesmo mecanismo basicamente, a sua apresentação é peculiar em cada paciente. Desse modo, o protocolo direciona a conduta, mas a assistência é individual e personalizada, já que cada paciente tem suas próprias necessidades.

Oportunidades e desafios dos protocolos para a equipe multiprofissional

Existem muitos desafios na implementação dos protocolos, por exemplo, a própria resistência do profissional em segui-los e a disposição em descrever e angariar recursos para que eles sejam desenvolvidos e implementados. É necessário que haja um entendimento da importância e dos benefícios do protocolo, assim como uma crença nele, caso contrário, não surtirá os resultados esperados. Outro aspecto que descredibiliza o protocolo ocorre quando se implementa um documento que não foi desenvolvido na instituição, que não “conversa” com o serviço e não corresponde à realidade. Quem seguirá um protocolo assim?

Por outro lado, a ausência de padronização nos serviços de saúde é uma oportunidade para implementação dos protocolos clínicos, mas é preciso ter muita atenção. Com qual protocolo iniciaremos? Essa pergunta é muito importante, pois deve-se iniciar pela condição ou patologia mais prevalente em seu serviço. Imagine que na sua organização você percebeu que o perfil epidemiológico é composto por pacientes/clientes acometidos pelo Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Essa é a primeira informação, então você já se sabe por onde iniciar e qual será o primeiro protocolo a ser implantado.

Figura 2.7 | Exemplo de algoritmo
Nota: DEA: Desfibrilador automático; RCP: Ressuscitação cardiopulmonar; SBV: Suporte Básico de Vida. PCR: Parada cardiorrespiratória.
Fonte: American Heart Association (2020, p. 10). 

Nesta seção, vimos que o protocolo clínico pode ser desenvolvido e implementado em todas as áreas da saúde, e o seu sucesso dependerá do planejamento e da capacitação das equipes quanto aos protocolos e ao sistemático acompanhamento. Aquilo que hoje traz questionamentos (por exemplo, como será que isso pode ser melhorado?) pode virar um protocolo. Use e abuse desta grande ferramenta de melhoria da qualidade.

Faça a valer a pena

Questão 1

Os protocolos clínicos são as ferramentas mais importantes na gestão da qualidade e segurança do paciente. Uma vez que você padroniza a assistência ao paciente/cliente, assegura-se também um determinado padrão de qualidade, que pode ser mensurado e melhorado continuamente. Os benefícios do protocolo clínico podem ser classificados considerando o ______________, o _______________ e o _________________.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

Os benefícios do protocolo clínico podem ser classificados considerando o paciente, o profissional e o serviço de saúde. Todos ganham.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Questão 2

O protocolo clínico tem como objetivos e princípios:

  1. Dar apoio à conduta clínica de determinada doença ou condição.
  2. Ajudar na organização do trabalho.
  3. Descrever as responsabilidades das ações e dos membros da equipe multiprofissional.
  4. Tirar a autonomia do profissional, pois ele pode errar, e o protocolo é perfeito.

Considerando o contexto apresentado e a avaliação das afirmativas, é correto o que se afirma em:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

A afirmativa I está correta, pois este é o fundamento do protocolo.

A afirmativa II está correta, porque padroniza as condutas.

A afirmativa III está correta, visto que cada profissional saberá o que deve fazer em determinada situação.

A afirmativa IV está incorreta, pois o objetivo do protocolo é ajudar o profissional, e não tirar sua autonomia.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Questão 3

O protocolo clínico visa direcionar e trazer segurança para o profissional de saúde na tomada de decisão frente a uma condição ou doença. Para que um protocolo clínico tenha credibilidade, é fundamental que ele possua as _______________, pois elas trazem as _____________ que embasam o ______________.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas:

Correto!

Para que um protocolo clínico tenha credibilidade, é fundamental que ele possua as referências, pois elas trazem as evidências que embasam o protocolo clínico.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Referências

AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaques das diretrizes de RCP e ACE de 2020 da American Heart Association. Dallas, TX: American Heart Association, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3bgbbiB. Acesso em: 22 dez. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/37pKiaX. Acesso em: 10 set. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Guia de elaboração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas: delimitação do escopo. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3atbszw. Acesso em: 10 nov. 2020.

PIMENTA, C. A. M.; LOPES. C. T.; AMORIM, A. F.; NISHI, F. A.; SHIMODA, G. T.; JENSEN, R. Guia para construção de protocolos assistenciais enfermagem. São Paulo: Coren-SP, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3ub0rem. Acesso em: 6 nov. 2020.

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