A influência das concepções de linguagem na prática pdagógica
Qual é a concepção de linguagem do professor?

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sem medo de errar
As reuniões pedagógicas são espaços de troca de experiências e de reflexão sobre as práticas docentes. Em um relato de prática pedagógica, um professor afirma que os alunos não utilizam a linguagem oral de forma satisfatória, que se expressam mal e que precisam de mais atividades de reprodução de linguagem para melhorar o desempenho linguístico. O que você identifica como problema nesse relato?
A situação-problema descrita permite pensar como a concepção de linguagem que o professor adota em sala direciona todo o trabalho realizado. No relato apresentado, o professor considera a linguagem uma representação do pensamento, pauta-se em certo e errado e faz um julgamento acirrado em relação à fala dos alunos.
Despertar nesse professor um olhar crítico em relação à linguagem pode levá-lo a repensar como as crianças se apropriam da linguagem oral e como a linguagem marca a identidade de quem fala.
Você pode elaborar sua argumentação partindo da discussão de que a linguagem, conforme vimos nesta seção, não é mera representação do pensamento, e que elaborar atividades de repetição em nada auxilia na melhora da fala. Vale acrescentar a essa situação que a apropriação da linguagem “adequada” acontece por identificação, e a criança (ou o jovem ou o adulto) precisa se reconhecer naquele modo de falar para que o processo faça sentido a ela, de modo que a aprendizagem, de fato, aconteça.
Ao traçar seu percurso argumentativo dessa maneira, você analisa de forma crítica as concepções sobre linguagem e oralidade presentes nos documentos educacionais e nos textos científicos, que podem até ser retomados na discussão.
As práticas de sala de aula precisam ser inclusivas, e a inclusão também deve ser linguística. É obrigação da escola acolher os diferentes modos de falar que chegam à escola, erradicar qualquer preconceito linguístico que possa existir e entender que a linguagem é um processo interativo que não depende apenas do sujeito que fala.
Avançando na prática
AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E A PRÁTICA DA CORREÇÃO
Em uma reunião pedagógica, um professor expõe que aceita todos os tipos de falares em sala de aula, que é preciso respeitar os modos de falar de cada um e que a fala representa a identidade dos alunos. Acrescenta, ainda, que, em uma atividade de recontagem de histórias, ele não corrige a criança, pois não há um único modo de falar, o importante é que haja comunicação.
Nessa discussão, há professores que discordam e afirmam que corrigem os alunos durante a produção oral, no momento da aula, pois há normas linguísticas que precisam ser seguidas; outros professores apresentam dúvidas sobre o fato de não haver correção e questionam o aprendizado das crianças. Perceba que as dúvidas são recorrentes e que a concepção de linguagem é determinante para o direcionamento do trabalho em sala de aula. Como ensinar? Como avaliar? Deve-se corrigir? Essas são algumas dúvidas apresentadas pelos professores.
Considerando os autores que vimos nesta seção e as reflexões propostas nesta etapa, quais argumentos você pode utilizar para evidenciar o seu ponto de vista sobre essa discussão linguística das práticas desenvolvidas em sala de aula?
Você deve se lembrar de que o professor precisa identificar as variações linguísticas e pensar sempre em práticas educativas inclusivas, que respeitem os diferentes modos de falar. Mesmo considerando que a escola precisa acolher os diferentes falares, você não pode se esquecer de que a escola é responsável pelo acesso do aluno a um modo de falar que ele ainda não domina.
Geraldi, um dos autores que estudamos nesta seção, diz que a linguagem não serve apenas para comunicar ou transmitir informações, mas é um processo de interação. Travaglia também compartilha da mesma opinião e fala da importância de se considerar a linguagem como processo de interação, que acontece em contextos específicos. Partindo desses autores, você pode contribuir acrescentando que a linguagem não é mecânica, não é simplesmente ensinada e aprendida, e que é preciso se identificar com a língua ensinada.
Pesquise mais
O livro das autoras Beatriz Salgado e Paula Marques, disponível na Biblioteca Virtual, apresenta uma introdução aos estudos linguísticos. Para você saber mais sobre o esquema de comunicação desenvolvido por Jakobson, citado na concepção de linguagem como instrumento de comunicação, leia as páginas 39-44.
- SALGADO, B. de O.; MARQUES, P. Introdução aos estudos linguísticos. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
Indicamos a leitura de um texto que explica e analisa a linguagem por meio das concepções, apresentando as mudanças ocorridas na entrada dessas concepções nos materiais oficiais.
- DORETTO, S. A.; BELOTI, A. Concepções de linguagem e conceitos correlatos: a influência no trato da língua e da linguagem. Revista Encontros de Vista, [S.l.], v. 8, p. 89-103, 2011.
Exemplifique com as falas que dividimos no cotidiano, nas diversas situações de comunicação, em casa, na escola, em outras instituições, o quanto ela se estrutura de forma diversa, considerando os interlocutores, o conteúdo da conversa e os objetivos pretendidos. Assim, retome o papel da escola na produção do conhecimento da variedade que os alunos não conhecem — e daí vem a importância da correção. Você deve ter lembrança de alguma situação em que foi corrigido de maneira constrangedora ou já deve ter presenciado alguma ocorrência desse porte; deve, ainda, conhecer alguém que não se expressa oralmente em público devido a traumas da época de escola. Essas situações podem ilustrar o quanto o cuidado no ato da correção é válido.