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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

Princípios da variação linguística

Fabiana Costa Dias

Como valorizar a diversidade linguística e cultural em sala de aula?

Responder a essa questão é seu grande desafio nesta seção.

Fonte: Shutterstock.

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sem medo de errar

Depois do relato de uma professora durante a reunião pedagógica, a coordenadora solicitou um reencontro para que os professores apresentem para os colegas seu posicionamento sobre a dificuldade de expressão oral dos alunos, embasados em reflexões científicas e com sugestões de trabalho para a sala de aula que promovesse a melhoria na linguagem oral das crianças. Tendo isso em mente, como você apresentaria as variedades linguísticas? Qual prática você elaboraria, levando em conta a diversidade linguística e cultural?

Para resolver essa situação-problema, você deve fazer uso da exposição oral de forma clara e argumentativa, expor seu ponto de vista com segurança e atuar no sentido de resolver o problema apresentado pela colega. Elabore uma apresentação que seja pautada nos autores que trabalhamos nesta seção, explicando aos colegas o que é uma variedade linguística e quais são os seus tipos. Aqui, é importante dizer que não temos apenas uma única forma correta de falar e que há várias formas de dizer no Português, mas que nem tudo é aceito em qualquer situação comunicativa, é preciso adequação linguística.

Reforce que o papel da escola é ensinar a norma-padrão e jamais estigmatizar a fala que o aluno já traz. Se achar pertinente para a situação, retome a concepção de linguagem, para que os outros colegas entendam o que você considera ser linguagem; isso pode ser um excelente argumento para a prática que você vai propor, pois mostra que compreende o papel da linguagem e da oralidade na comunicação humana. Mostre que você tem originalidade, criatividade, que está antenado com as novas mídias e que seu trabalho está ancorado na BNCC. Como prática, proponha:

Proposta: entrevista investigativa – linguagem e migração

  1. O entrevistado pode ser pai, mãe, avó, tio, irmão, etc.
  2. Algumas perguntas que podem ser feitas:
    • Sobre a migração: onde nasceram, qual ou quais lugares já moraram, por que mudaram, etc.
    • Sobre linguagem: quais diferenças nos modos de linguagem o entrevistado percebeu nos diferentes lugares em que já morou, se sempre morou no mesmo lugar, se percebe diferenças no modo de falar de pessoas que vieram de outras regiões, quais são essas diferenças; se o entrevistado poderia apresentar palavras que nomeiam objetos ou alimentos de forma diferente, de acordo com a região, por exemplo, pão, o qual, dependendo do lugar, recebe nomes bem diferentes (em algumas cidades da região Sudeste, pão francês; no Rio de Janeiro, pão de sal; no Ceará, carioquinha; em algumas cidades da região Nordeste, pão aguado; na região Norte, carequinha; no Rio Grande do Sul, cacetinho).
  3. Realização das entrevistas: serão gravadas e enviadas por áudio (ou vídeo) para um grupo específico.
  4. Postura do entrevistador: leitura das perguntas, tom de voz, tempo de resposta, etc. Aqui também é um espaço em que a linguagem formal pode ser acionada, mas não se esqueça de que, mesmo sendo uma entrevista, será realizada por pessoas com bastante intimidade, em um contexto informal: casa. Tudo isso precisa ser levado em consideração, pois entrevistas podem ser espaços de usos da linguagem oral formal, mas também podem não ser, e os programas infantis ou dominicais estão aí para nos mostrar que esse funcionamento diverso de um gênero (lembre-se do “relativamente estável” que Bakhtin afirma na definição de gênero).
  5. Curadoria das entrevistas coletadas: as entrevistas serão organizadas de acordo com a migração, os que migraram e os que não migraram; de acordo com as respostas, os que perceberam diferença, os que não perceberam; de acordo com os exemplos das palavras que apresentaram, etc.
  6. Divulgação/circulação midiática da entrevista: a entrevista será apresentada a outras turmas, em uma feira de ciências da escola, ou em uma rádio da cidade.

Atente para que todos os alunos participem, com diferentes necessidades e deficiências, levando em conta seus diversos contextos culturais, socioeconômicos e linguísticos. Observe o processo da atividade, para que a aprendizagem seja colaborativa, partindo da premissa de que todos são capazes de aprender, visando à equidade.

Repare que esta prática auxilia você na compreensão do contexto sociocultural dos estudantes e cria uma aproximação com as famílias e com a comunidade, conhecendo a identidade das crianças.

Essa proposta prática permitirá que você mostre aos colegas, na reunião pedagógica, os diferentes modos de falar, ressaltando a importância da adequação linguística em diferentes contextos comunicativos, o que promove o conhecimento da linguagem formal pela criança, sem dispensar outras variedades recorrentes na fala de todos nós.

Avançando na prática

VARIEDADES LINGUÍSTICAS: A LITERATURA ROMPENDO PADRÕES

Agora, você se depara com uma nova situação que permite repensar práticas pedagógicas de ensino da língua que vislumbram o cuidado com o trato linguístico no que diz respeito às variedades. Outra discussão surge entre os professores na escola: a literatura como modelo para o bem falar e o bem escrever. Alguns dizem que usam a literatura como modelo para exemplificar o que é a língua e como ela funciona; para esses professores, a literatura, além da possibilidade de trabalhar a interpretação, também permite trabalhar a estrutura linguística. Diante dessa situação, como você se posiciona para defender as variedades linguísticas?

Os conhecimentos que você construiu ao longo desta seção permitem elaborar uma boa resposta sobre essa questão variacional. Uma das possiblidades de resposta se sustenta na ideia de que a linguagem escrita sempre foi modelo para falar e escrever bem, é o lugar de referência para o que chamamos de Língua Portuguesa, mas se esquece da diversidade linguística que nossa língua tem (e todas as línguas têm). Essa variedade é percebida na escrita literária, em diversos textos de autores, como Guimarães Rosa, Manuel Antônio de Almeida, Graciliano Ramos, entre outros, em diálogos entre os personagens, que evidenciam a diversidade linguística que temos em nosso país.

Essas variedades que a literatura nos mostra apresentam aos alunos formas de falar com as quais eles podem se identificar, que se aproxima ao modo de fala que eles trazem. Se você julgar pertinente, pode até levar alguns desses exemplos para ilustrar a sua fala.

Você pode, ainda, reforçar a discussão trazida pelos pesquisadores sobre linguagem, como Travaglia, Possenti e Geraldi, que são unânimes em dizer que o objetivo da escola é ensinar a norma-padrão, ou seja, as variedades linguísticas constituem a nossa língua, e a escola precisa levar ao conhecimento do aluno a variedade que ele ainda não domina.

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