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Praticar para aprender
Caro estudante, seja bem-vindo à segunda seção desta unidade. Como você já deve ter percebido pelos estudos da Seção 3.1, esta é uma unidade em que as diferentes manifestações da oralidade são a prioridade e, nesta seção, não será diferente. Você teve acesso aos diferentes modos de comunicação existentes, que também se formam pelas mídias digitais em suas diferentes modalidades.
Após estudar sobre os vários modos de comunicação, considerando as multimodalidades, seguiremos, nesta seção, discutindo a complexidade da linguagem, mas agora por meio da manifestação cultural e popular da oralidade. Quantas riquezas temos na nossa cultura popular, não? Sobretudo na oralidade! Vamos explorar isso e pensar em práticas educativas inclusivas?
Para isso, discutiremos a oralidade e a cultura popular, considerando as diferentes manifestações artísticas orais que temos em nosso país, nas diversas regiões, e considerando, também, os mais variados modos, desde as canções e músicas populares tradicionais, como aquelas que ouvíamos quando crianças, até manifestações da cultura popular brasileira contemporânea, como as “Rodas de verso”.
Todas essas manifestações exigem a presença do corpo como elemento crucial para a sua propagação, pois as multimodalidades na oralidade, conforme vimos, perpassa o corpo, as expressões faciais, o movimento corporal e a entonação da voz. Conhecer essa vasta produção de linguagem contribui para que você vá construindo seu repertório de formação e para que possa planejar propostas pedagógicas que envolvam a manifestação cultural e popular da oralidade a partir das diferentes expressões orais.
Desde a primeira seção desta unidade, o contexto de aprendizagem para a resolução da situação-problema coloca você na situação hipotética da sala de aula, como se lecionasse para uma turma de 1° ano do ensino fundamental, etapa crucial para a formação do aluno. Vale retomar que a transição da educação infantil para o ensino fundamental exige um olhar cuidadoso dos professores e de toda a equipe gestora, pois as mudanças pelas quais a criança passa são definitivas para o processo de aprendizagem. É neste momento que o respeito aos diferentes modos de acesso ao conhecimento dos estudantes precisa ser o ponto de partida para o planejamento das práticas pedagógicas.
Neste contexto de aprendizagem, muitas atividades estão previstas: atividades que envolvam as diferentes linguagens orais multimodais que contemplam as multimídias, como redes sociais, aplicativos diversos de mensagens com áudio e vídeo, e variados sites na internet; acesso à cultura popular brasileira por meio da arte, da literatura e de canções e músicas populares; e contato com diferentes gêneros textuais compostos por variados elementos multissemióticos, ou seja, que englobam tanto elementos linguísticos quanto não linguísticos, seja na escrita ou na oralidade.
Uma das formas de propagar a cultura e a arte são os saraus. Sarau é um encontro artístico-cultural em que as pessoas se reúnem para se expressar das mais variadas formas: por meio da música, cantando ou dançando; por meio de textos, declamando poesias de autores conhecidos, ou de autoria própria, e fazendo a leitura de textos diversos; ou por meio de performances, como cenas de teatro, entre outras. Um sarau pode, também, apresentar exposições artísticas visuais e imagéticas, como quadros, pinturas, desenhos... E pode ter, ainda, comidas típicas dos mais variados locais.
A partir desse contexto, imagine que a sua turma participará de um sarau organizado pelos professores da educação infantil, juntamente com o ensino fundamental; cada turma participante apresentará números artísticos que sejam embasados pela cultura popular brasileira em sua manifestação oral. Assim, você terá de elaborar uma apresentação artística-cultural que pressuponha o contato com as diferentes culturas populares que temos em nosso país. Aproveite para explorar os seus conhecimentos e para expandir os dos alunos em relação à cultura oral, pelas diferentes manifestações. Lembre-se de se embasar nas competências e habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o 1° ano do ensino fundamental, sobretudo no que tange ao eixo da oralidade.
Nas competências específicas de Língua Portuguesa para o ensino fundamental, a BNCC (2017) ressalta, na competência 9, a importância da prática da leitura literária, e, nesse contexto, ouvir músicas, ler versos e assistir a vídeos de slams são consideradas práticas de leitura, porque pressupõem interpretações. É nessa competência que é prevista a valorização da literatura e das outras manifestações artístico-culturais. Por essa via, você tem muitas possibilidades de elaborar a sua atividade e de resolver esta situação-problema, visando ao desenvolvimento das competências e habilidades previstas pela BNCC.
Utilize-se dos conhecimentos já adquiridos nesta disciplina, e em outras que você já tenha cursado, e adote um repertório diversificado de estratégias didático-pedagógicas para que possa criar uma apresentação artística-cultural que tenha multimodalidades. Não se esqueça de valorizar a heterogeneidade dos alunos e as suas diferentes identidades.
Venha transitar pela vasta cultura popular brasileira que se manifesta na oralidade. Entenda como a arte pode nos nutrir de conhecimento e de emoções, oferecendo a nós um vislumbre a respeito da diversidade humana. Vamos lá?
conceito-chave
[...]
meu corpo é um campo de batalha.
minha respiração, transgressão.
de minha existência fiz moinho,
pulsei sem permissão.
de mim mesmo fiz destino.
para todos, rejeição.
do querer fiz passarinho,
os que não me querem passarão.
[...]
Caro aluno, ao ler a epígrafe desta seção, escrita pelo poeta Marcelo Caetano, convidamos você, já de início, a refletir sobre o corpo enquanto manifestação artística e cultural, e enquanto meio de revolução e de resistência. Nesta seção, ao tratarmos da manifestação cultural e popular da oralidade, vamos perceber o quanto o corpo é fio condutor da cultura e da arte nos mais diferentes gêneros orais, pelas diversas mídias e suportes digitais.
A BNCC já sinaliza a importância de se considerar o corpo para pensar a educação desde a educação infantil, quando descreve os campos de experiências que devem organizar o currículo desta etapa e definir os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Os cinco campos de experiências descritos pela BNCC (BRASIL, 2018, p. 25) – “o eu, o outro e o nós”, “corpo, gestos e movimentos”, “traços, sons, cores e formas”, “escuta, fala, pensamento e imaginação” e “espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” – são baseados nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil e pressupõem os conhecimentos básicos nesta etapa.
Vale ressaltar que, apesar de a BNCC descrever os cinco campos de experiências, eles não devem ser pensados de forma separada, estanque, mas devem ser considerados a partir das situações e experiências concretas da vida cotidiana das crianças. Isto pressupõe que não são descritos para serem trabalhados em sala de aula divididos (por dias da semana ou por semanas dos meses), mas devem estruturar todo o planejamento curricular da educação infantil. Ao analisarmos os campos de experiências, percebemos que eles, na realidade, se complementam.
Na descrição do campo de experiências “corpo, gestos e movimentos”, a BNCC (BRASIL, 2017) aponta que as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos com os quais interagem pelo corpo, assim, vão descobrindo sensações e funções do seu corpo. Perceba que a relação com o corpo se dá desde sempre e, por isso, precisa ser tratada na escola em todas as etapas de ensino, desde a educação infantil, conforme mostramos aqui, passando pelo ensino fundamental e chegando ao ensino médio, seja pelas recitações ou pelo teatro e pela dança.
É pelo corpo que você precisa pensar a cultura popular que vamos apresentar nesta seção: trata-se de uma expressão de arte pela oralidade, pela voz e pelo corpo. Vale ressaltar que discutiremos aqui apenas um recorte da cultura popular brasileira, que é muito vasta, assim, é provável que você tenha outras referências e que as utilize em suas práticas na escola; isso é consequência da riqueza cultural e do processo de construção do conhecimento, que parte de alguns pontos e se expande também pelo conhecimento cultural que você já traz. Usufrua desse seu conhecimento!
Vamos começar a pensar a cultura popular pelas canções e músicas populares. Canções populares nada mais são do que músicas de grande alcance social, que circulam de uma forma mais “livre” nos diferentes meios sociais e pelas diferentes tecnologias, desde as mais antigas, como rádio e TV, até as mais atuais, como os serviços de streaming de música. Essas canções “caem na boca do povo” e muitos sabem cantá-las, nas mais variadas versões. Uma das canções populares mais tradicionais é o famoso “Parabéns para você”, cantado nas diferentes comemorações, sobretudo em aniversários de nascimento. Esse é um simples exemplo de como a cultura popular se propaga e de como a sua origem e autoria se perdem frente ao ritual e à importância da sua manifestação.
Você deve se lembrar de várias canções e músicas populares, vamos retomar algumas? “O cravo brigou com a rosa”, “Hoje é domingo”, “Ciranda cirandinha”, “Capelinha de melão”, “Alecrim”, “Meu galinho”, “Se essa rua fosse minha” e tantas outras que povoaram nossa infância e eram próprias da oralidade. As canções populares fazem parte da cultura de um povo, por isso devem fazer parte da sala de aula; além disso, retratam, como toda arte, o comportamento de uma sociedade. Daí a importância de se ter um olhar crítico também para o que é popular.
Algumas letras de canções e músicas populares, quando cantadas hoje em dia, nos causam estranhamento e precisam ser refletidas juntamente com as crianças, é o caso da canção “O cravo brigou com a rosa”; essa letra (“O cravo brigou com a rosa/ Debaixo de uma sacada/ O cravo saiu ferido/ E a rosa, despedaçada”) narra uma briga entre um casal que resulta em consequências “físicas” e, mesmo com essas consequências, a rosa visita o cravo e chora quando ele desmaia.
A escola não pode se colocar ausente a essas questões. Se você optar por trabalhar com canções como essa, precisa levar em consideração o respeito ao outro e aos direitos humanos, como preconiza a BNCC na competência 9 das Competências Gerais da Educação Básica:
Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Isso se aplica a outras músicas, como “Cai, cai, balão”, cujo conteúdo pode servir para discutir com as crianças sobre os riscos de acidentes e mortes ao se soltar balões, e sobre o caráter criminoso dessa prática, conforme a Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, Art. 42, que considera Crime contra a Flora “Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano” (BRASIL, 1998, [s.p.]), com pena de detenção ou multa.
Outro exemplo é a canção “Atirei o pau no gato”, que traz a narrativa de violência contra animal doméstico, o que também é uma infração, de acordo com a mesma lei mencionada anteriormente (Lei nº 9.605/1998), no Art. 32, que considera Crime contra a Fauna: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” (BRASIL, 1998, [s.p.]), também passível de multa e detenção.
Essas canções, e outras, podem ser importantes recursos para a discussão do respeito consigo, com os outros e com o meio ambiente, questões cruciais previstas em toda a educação básica.
Há outras músicas populares com autoria declarada, e também muito tocadas, como a música “A casa” de Vinicius de Moraes:
A Casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela, não
Porque na casa
Não tinha chão
[...]
Vinicius de Moraes foi um grande poeta e, juntamente com Toquinho, escreveu várias músicas voltadas para o público infantil, que são cantadas até hoje. Muitas delas estão reunidas no CD “A arca de Noé”, como a música “A casa”, que é pura poesia. A impossibilidade de se habitar esta casa pode ser um grande atrativo para as crianças, despertando a imaginação, o que pode gerar muitas outras questões e atividades a serem desenvolvidas, como atividades sobre moradia, que utilizem recursos como pintura, modelagem, fotografia, música, teatro, dança, artes visuais, ou atividades sobre espaços da casa, da rua, do bairro, da cidade, trabalhando noções matemáticas, como medidas, dimensões, formas, e trabalhando ciências, também, ao tratar de materiais, de misturas... É possível, ainda, trabalhar história para discutir as mudanças na estrutura das moradias ao longo dos tempos, ou mesmo geografia, apontando as diferenças entre as moradias nas diferentes regiões do país. Você reparou em como é vasta possibilidade de discussões a partir de uma música? Todos esses exemplos trazidos são apontados na BNCC, nos diferentes componentes curriculares.
Outros textos orais bastante comuns na nossa cultura são o repente e a embolada, textos criados por nordestinos e que trabalham com a improvisação dos versos, que podem ser espontâneos ou por desafios. Veja quão diversa é nossa cultura oral! O Brasil nos oferta muitas produções artísticas que podemos levar para o conhecimento de nossos alunos na escola e, assim, propagar a cultura popular.
Esses movimentos artísticos são típicos da oralidade, mas sabemos do quanto a escrita é responsável para a preservação das culturas. A poeta e professora universitária rio-grandense-do-norte, da etnia potiguara, Graça Graúna (2017, [s.p.]), no poema Escrevivência indígena, diz que:
Ao escrever
dou conta
da ancestralidade,
do caminho de volta
do meu lugar no mundo
Esse poema reflete a importância da escrita para manter viva a memória indígena. Sabemos que a escrita é um medidor da valoração de uma sociedade; isso pode ser percebido também pelo modo como alguns julgam como inferiores as sociedades ágrafas, ou seja, as sociedades sem sistema de escrita próprio. Essa desvalorização da oralidade enquanto sistema único para comunicação pode ser observada, também, em pessoas adultas que ainda não foram alfabetizadas; essas pessoas sentem na pele o quanto o preconceito é latente em sociedades de escrita.
Essas reflexões permitem a você entender o porquê de a oralidade não ser tão valorizada, nem na escola. E, a cada seção que estudamos nesta disciplina, percebemos que praticar e, principalmente, ensinar oralidade na escola é emergencial. Nos comunicamos também – e principalmente – pela oralidade, utilizamos de multimodalidades na oralidade, intercalando linguagem verbal e não verbal, manifestações corporais, tecnologias digitais, tudo para enriquecer a nossa fala. Aí entra a importância da escola: garantir o processo de ensino e aprendizagem da oralidade enquanto prática social pelos diferentes modos de comunicação existentes.
Sabemos da importância dos povos indígenas, os nativos deste país, para nossa cultura e para nossa história. Os indígenas têm a tradição oral como uma marca; a oralidade era o principal meio de manter viva a história dos seus povos, que passava de geração em geração. Sendo assim, não podemos deixar de mencionar a oralidade desses povos como parte da cultura popular brasileira. Uma das formas de conhecer e propagar essa cultura é a Rádio Yandê: A rádio de todos, que pode ser ouvida on-line, em sua página da web. Essa rádio é uma importante ferramenta para trabalharmos a cultura indígena na escola, pois traz músicas, entrevistas, poesias, dentre outros conteúdos diversificados:
Além de músicas indígenas, a grade possui programas informativos e educativos, que trazem para o público um pouco da realidade indígena do mundo. Desfazendo antigos esteriótipos e preconceitos ocasionados pela falta de informação especializada, em veículos de comunicação não indígenas.
Essa rádio traz um conhecimento sobre a cultura indígena que vai além das rezas e cantos tradicionais, mostrando os mais variados estilos musicais produzidos por indígenas, tanto em língua portuguesa quanto em outras línguas. É possível, também, acessar vídeos diversos das músicas, além de entrevistas que mostram o cotidiano indígena bem além daquele aprendido em livros didáticos de outrora, nos apresentando o indígena integrante da sociedade em que vivemos.
A escola é a grande responsável por viabilizar aos alunos o acesso a culturas que eles não conheceriam de outra maneira. E isso é um direito. Como nos diz Candido (2004), a arte é um direito humano que deve atender aos anseios de uma sociedade em todas as modalidades e em todos os níveis. O autor fala do efeito formador de identidade que a arte e a literatura têm, indo muito além das convenções; as manifestações artísticas são o lugar do conflito, da resistência, do deslocamento. Esse crítico defende a arte de um modo bastante peculiar, não priorizando apenas as artes consagradas, as do grande cânone, mas todos os tipos de arte, pois alguma vai suprir a necessidade de alguém.
Diante dessa questão dos direitos humanos, Candido (2004, p. 14) diz que “pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo” e essa afirmação dele nos provoca a desenvolver um trabalho coletivo na escola, e fora dela, para que o conhecimento que temos e para que a arte que conhecemos cheguem até nossos alunos e aos que nos são próximos. Isso é um exercício para praticarmos o direito humano. Ele ainda pensa a arte pelo viés da humanização, tão emergencial nesse nosso tempo; e o que é humanização, para ele?
Entendo aqui por humanização (já que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.
Você deve ter percebido que considerar a arte como humanizadora é conceber a literatura, a poesia, a música em sua essência e não como utilitária, o que é muito corriqueiro. A arte forma, transforma e o principal: humaniza! Isso se dá ao ouvirmos uma música, ao admirarmos um quadro ou uma escultura, ao escrevermos ou recitarmos uma poesia, ao lermos um texto literário e, em um movimento de alteridade, nos colocarmos no lugar do outro, analisando de forma crítica a situação apresentada pela trama do enredo do texto. Aí entra, também, o papel do professor, que precisa provocar olhares para a opacidade do texto e ir além do utilitarismo no texto literário.
Desde a educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, as mais variadas culturas orais podem, e devem, ser trabalhadas na sala de aula. Aqui, trouxemos alguns desses gêneros, mas poderíamos ter falado das batalhas de MCs, dos jongos – que além de poesia incluem dança e música, sendo tradicionais dos quilombos –, dos podcasts de poesia que circulam apenas no digital, por áudio... A arte oral é terreno fértil para o trabalho em sala de aula. Nos anos iniciais, quando os alunos ainda não dominam a linguagem oral com suas particularidades, ou quando ainda não escrevem convencionalmente, os repentes, as emboladas, as músicas, as canções e a poesia podem estar em sala de aula, produzindo uma familiaridade com as rimas, o ritmo e a melodia desses gêneros para que, em anos posteriores, possam produzir esses textos.
Assimile
- A presença do corpo no planejamento educacional está presente em todas as etapas da educação básica e em todos os componentes curriculares, como nos mostra a BNCC: arte, educação física, matemática, ciências, geografia e história.
- Os repentes e as emboladas constituem a arte nordestina. São produzidos pelo improviso, mas possuem características bastante específicas: os repentes vêm acompanhados da viola, enquanto as emboladas, pelo pandeiro; os repentes seguem uma rigorosidade de rimas que não é exigida pelas emboladas.
Reflita
Alguns gêneros textuais da oralidade circulam com mais frequência em nosso meio, estando bastante presentes em materiais didáticos, mas outros não. A que você atribui essa prevalecência de uns gêneros orais da cultura popular em detrimento de outros?
Exemplificando
- Perceba que as canções populares não têm limites geográficos e que atravessam gerações; você pode propor às crianças que entrevistem seus familiares, amigos ou vizinhos para descobrirem quais canções populares eles conhecem. Elas se surpreenderão ao perceber como pessoas tão diferente acabam apresentando tantas referências comuns de músicas populares.
- A arte, enquanto utilitária, é usada na sala de aula como pretexto para se discutir determinado assunto ou para trazer um ensinamento. Para isso a arte e a literatura não servem! Não escolha um texto literário para trabalhar em sala de aula com a finalidade de ensinar algo, escolha pelo texto literário em si, pela vasta possibilidade de discussões que ele permite; a partir disso, as (trans)formações acontecem.
Foco na BNCC
Para o ensino fundamental, a BNCC apresenta como uma das habilidades “recitar cordel e cantar repentes e emboladas, observando as rimas e obedecendo ao ritmo e à melodia” (BRASIL, 2018, p. 133). Daí a importância de se estudar as canções e músicas populares desde os anos iniciais.
Chegamos ao final desta seção. Conhecemos um pouco as manifestações orais da cultura popular brasileira e entendemos que a arte é um direito humano que contribui para a formação de um ser mais humanizado. Na próxima seção, vamos estudar os gêneros textuais em diferentes formas de interação, esperamos por você.
Faça valer a pena
Questão 1
Leia o trecho a seguir a respeito da cultura popular:
A cultura popular, portanto, concebida como um sistema outro de conhecimentos, sentidos e significados, seria capaz de resgatar para a escola no processo educacional, toda a riqueza da experiência de diferentes formas de compreender e interpretar o real, a vida e a condição humana.
De acordo com a afirmação de Silva, assinale a alternativa que apresenta corretamente a importância da cultura popular para a escola:
Tente novamente...
Essa alternativa está incorreta porque supervaloriza os clássicos, no entanto, a escola deve considerar todas as culturas de forma democrática.
Tente novamente...
Considerar a cultura erudita e a cultura popular como dualidade já é o suficiente para esta alternativa ser incorreta; relacionar o popular ao oral e o erudito ao escrito somente faz aumentar os elementos para considerá-la incorreta.
Tente novamente...
As práticas de sala de aula não devem dar destaque à cultura erudita e nem à cultura popular, como enfatiza a alternativa, por isso está incorreta.
Correto!
Essa alternativa evidencia a importância da cultura popular nas escolas, sejam as tradicionais, as modernas ou contemporâneas; a escola precisa ser o espaço de circulação das mais variadas culturas.
Tente novamente...
Assim como práticas de sala de aula não devem dar destaque apenas para a cultura popular, a cultura clássica também não pode ser considerada como a única responsável pela formação cultural do aluno; alternativa incorreta.
Questão 2
Leia o trecho a seguir, retirado da BNCC:
Sem aderir a um raciocínio classificatório reducionista, que desconsidera as hibridizações, apropriações e mesclas, é importante contemplar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente.
A citação destacada enfatiza a importância de se considerar as mais variadas culturas na escola. Tomando como referência as reflexões propostas, julgue as afirmativas a seguir em Verdadeiras (V) ou Falsas (F):
( ) A escola deve promover o contato com diferentes culturas e saberes, possibilitando aos estudantes o acesso e a interação com as várias manifestações culturais populares presentes na sua comunidade.
( ) As manifestações originadas dos centros culturais e museus deve promover a crítica, a apreciação e a fruição de exposições e dos mais variados eventos culturais e literários.
( ) Na escola, as diferentes culturas precisam ser objeto de estudo e de reflexão, garantindo o respeito e a valorização, sobretudo das culturas brasileiras, em detrimento às de matrizes europeias, africanas, indígenas, etc.
( ) A tradição popular, manifestada por versos, cordéis, cirandas, deve circular na escola para aproximar os estudantes das diferentes culturas que marcam a identidade dos grupos das várias regiões.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Correto!
A afirmativa “Na escola, as diferentes culturas precisam ser objeto de estudo e de reflexão, garantindo o respeito e a valorização, sobretudo das culturas brasileiras, em detrimento às de matrizes europeias, africanas, indígenas, etc.” está incorreta, pois exclui a importância das culturas de matrizes europeias, africanas, indígenas, etc. do campo de estudo e reflexão na escola.
Questão 3
Leia o trecho a seguir:
O percurso consistia em tomar um canto ou conto como objeto e dissecá-lo. A partir daí, o texto abria possibilidades de explicar o sincretismo cultural, os comportamentos, e a “demopsicologia” brasileira, tal busca, no entanto, não dependia apenas da fonte oral, do ouvido e do anotado, do que havia sido modificado pela verve romântica da tradição de cantos indígenas. Era preciso também recorrer a explicações sobre o meio, o momento e a raça, bem como o registro de fenômenos anteriores e que se repetiam através dos tempos, formando as tradições populares no Brasil.
Com base nas reflexões sobre oralidade e cultura popular, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas:
- A oralidade, apesar de importante, não oferecia elementos suficientes para se registrar a cultura de um povo, era necessário o registro escrito para que a cultura popular fosse validada.
PORQUE
- Quando a cultura é transmitida pela oralidade, por uma sociedade, de geração em geração, as informações se contradizem e a cultura se perde.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Correto!
As asserções I e II são proposições falsas. A oralidade é o meio de registrar a cultura de muitos povos, tanto para os que já se constituíram pela prática da escrita quanto para as sociedades ainda ágrafas. Para as sociedades de escrita, é natural se utilizar da escrita para os registros, mas isso não é para validar o que foi propagado pela oralidade. Para as sociedades ágrafas, como não há a prática da escrita, é a oralidade que sustenta todo o conhecimento e o saber que passa de geração a geração, reforçando a cultura.
Referências
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FERNANDES, F. A. G. A voz e o sentido: poesia oral em sincronia. São Paulo: Ed. UNESP, 2007.
GRAÚNA, G. Escrevivência indígena. Blog art’palavra, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2PmpvyU. Acesso em: 10 jul. 2020.
MORAES, V. A arca de Noé: poemas infantis. Ilustração: Laurabeatriz. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
SILVA, R. M. C. Cultura popular, linguagens artísticas e educação. In: SILVA, R. M. C. (Org.). Cultura popular e educação: salto para o futuro. Brasília: Salto para o Futuro/TV Escola/Seed/MEC, 2008. p. 15-19.
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YANDÊ. Yandê: a rádio de todos, 2013. Programação da rádio. Disponível em: https://bit.ly/2NNj6MK. Acesso em: 10 jul. 2020.